Raimunda Lucinda Martins
Nesta madrugada, eu fiquei desenhando, escrevendo um
texto para São Luis.Escrevi mentalmente, meu coração lembra frases inteiras,
mas como a lua que vejo aqui no céu, está meio fininha...Uma linha tênue entre
o real e a fantasia.
Comecei a ver a minha rua( ou foi) lá onde eu morava, no
Filipinho... É, a minha cidade começa onde eu moro, ou melhor morava...A minha
rua, os meus amigos-irmãos, os conhecidos e até os desconhecidos. As
brincadeiras, os sorrisos, as lágrimas, umas solitárias, outras, divididas...
Da minha rua, as ruas por onde passava, as casas as quais entrava, a Igreja que
eu ia, os ônibus que eu pegava, as companhias que tinha, as horas de empurrões,
de alegres piadas, de brincadeiras de colegas, de estranhos, as conversas ou
simplesmente por vezes, o silencio, abafado pelo troar da lataria do
transporte... Depois, fiquei me lembrando, do tempo da escola, do Externato, do
Santa e do São Vicente...Histórias completas de partilha, de amizade, de
brigas, de conversas longas, aulas passadas e repassadas, dos deveres de casa,
das aulas particulares, do tempo em que vivi com pessoas que me ajudaram a me
transformar na pessoa e naquilo que nunca chegarei a ser...A correria que
tínhamos depois de saltar do ônibus para chegar a tempo na escola. Ah Fonte do
Ribeirão, aquela rua se pudesse falar, quantas vezes íamos com o coração na
mão, com medo de não chegarmos a tempo. Mas sempre dava, ainda bem!
Ora, e lá na sala, principalmente na 4ª série do ginasial, eu ficava exatamente numa janela, e ali o meu ponto fraco, culpa de Rosete Martins Limeira, que alimentava meus sonhos, a querer ver aqueles “barquinhos” da beira-mar. E aí, ali sentada a janela, olhava e olhava, enquanto alguma aula, rolava...Mas, sempre há um mas, minha Mãe, chamada a escola, ficou sabendo da minha falta de atenção, e aí passei a ter o lugar um pouco distante de alguma janela, e assim, passei menos tempo a olhar os barcos, o que não significa, que de vez em quando, aproveitando algum descuido, espichando-me ficava a espiar e via, principalmente um que tinha um pano avermelhado já surrado, no entanto, para mim, o mais belo que eu já havia visto.
Dessa forma, meu amor pela minha São Luis, foi aumentando,
e hoje, quando passo pela Rua do Sol, pela Praça João Lisboa, pela Magalhães de
Almeida, volto no tempo, e aí vejo as pessoas que amo, em algum canto, e
sorrio. Sim, eu vejo e revejo, por onde eu passo, não só os casarões, as casas
de antigas colegas transformadas em prédios comerciais, ou ainda em alguma
instituição oficial. Há rua e becos, que parecem me levar a tempos que eu nem
vivi. Sinto saudades de épocas e histórias que eu sequer poderia viver. É
assim, minha cidade, a que tenho aqui no meu coração. Prédios, construções,
árvores, pássaros, chão, pedras, cantarias, escadas, rampas, subidas e
descidas, todas elas, tem um que de especial.
Obrigada minha cidade! São 404 anos que contam, mas vou
te dizer Ilha do Amor, Ilha de porcelana, para mim és infinita, e sem tempo,
porque acho que vivo aqui desde sempre, até antes de eu nascer.
(07/09/2016)
Raimunda Lucinda Martins
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