Sebastião Nery
RIO – Fim de ano, tempo de sabedorias. Comecemos então de
longe. Platão, supersábio, na “Apologia de Sócrates”:
– “O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça,
mas para julgar segundo a lei”. (Como o irrepreensível juiz Sergio Mouro).
E Dante, superpoeta :
– “Per me si va nella cittá dolente, / Per me si va
all’eterno dolore, / per me si va tra la perduta gente. / Lasciate ogni
speranza voi ch’entrate.”
Séculos mais jovem, o ex-deputado e professor paranaense
Helio Duque adverte que o pais está entre uma agenda política e uma agenda
econômica:
– Pela gravidade da crise econômica e financeira em que o
populismo mergulhou o País, é na agenda econômica que os políticos brasileiros
deveriam priorizar com responsabilidade e urgência. É preciso dizer, com todas
as letras, que os Estados e a União estão quebrados. O que os distingue é que o
governo federal, ao contrário dos estaduais, pode emitir títulos para saldar os
seus compromissos financeiros. A década de irresponsabilidade fiscal, com o
gasto público atingindo 45% do PIB, para uma arrecadação tributária de 36%,
gerou a quebradeira geral. A recessão econômica era questão de tempo. Quando os
governos Lula e Dilma, com consequências perversas aumentaram
irresponsavelmente os gastos públicos, a maioria dos brasileiros contemplava e
apoiava a farra fiscal.
Aqueles governos detonaram os fundamentos da economia
construídos penosamente a partir do Plano Real. A relativa robustez que ele
gerou, externamente ganhando o grau de investimento, significando bom pagador e
internamente com a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, foi
abandonada. Em seu lugar colocaram uma política econômica fundamentada em abrir
o cofre e gastar em um expansionismo fiscal enlouquecedor.
Eliminado o superávit primário, o déficit nas contas públicas
determinou o descontrole da dívida pública que cresceu entre 2008 a 2015 em R$
2,2 trilhões, certamente para alegria do sistema financeiro nacional remunerado
regiamente com taxa de juros que atingiu 14,25% ao ano.
O atual governo foi feliz ao compor uma equipe econômica
de gente competente, mas não tem na área política o seu correspondente. A sua
atual base parlamentar, na maioria, participou da farra populista que levou o
Brasil à tragédia. Se na oposição os seus porta-vozes, grandes responsáveis
pela tragédia econômica, eximem-se da responsabilidade, os apoiadores do
governo, em grande número, demonstram serem adeptos do “é dando que se recebe”.
A Proposta de Emenda Constitucional que limita o crescimento do gasto público à
inflação passada, exigiu negociações pesadas.
A aprovação da PEC dos gastos foi um avanço. A equipe
econômica terá condições de reverter, em médio prazo, o caos econômico. Nesse
cenário desesperador é fundamental, nas manifestações de rua que se multiplicam
pelo País, cobrar dos administradores públicos e dos políticos o espírito
público. A recuperação dos valores perdidos em tempo recente é fundamental
Antes de melhorar o cenário econômico e social ainda haverá relativa piora. A
sua superação passa pelas reformas inadiáveis que precisam ser feitas e nelas a
maior responsabilidade é da classe política.
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