Crônica do Amanhecer
Hélcio Silva
(31 / 01 / 2017)
Perdemos a nossa fonte de produção, a nossa pequena
indústria quintalzeira sumiu: não há mais frutas, galinha caipira, o cantar do
galo da madrugada, o pato rei, o capote (catraio)... Da vinagreira nem sinal;
sequer existe um pezinho, no canto do quintal... O cheiro-verde, que nasce até
na palma da mão, se houver um pouco de terra, tomou doril: sumiu dos nossos quintais.
A Ilha, quase infértil, agoniza!...
Aquele jenipapeiro, com o seu jenipapo que a gente batia com açúcar
para deliciosos lanches ou para um jantarzinho antes da dormida, não mais
existe...
Até a praia do jenipapeiro sumiu da nossa Ilha... Tomaram
a nossa praia...
Quantos banhos eu lá tomei!...
E muitos dos nossos rios viraram leitos de esgoto... E
nossos peixes morreram asfixiados, perderam a atmosfera da vida...
E os nossos quintais? Transformaram-se em praças
asfaltadas (ou no cimento brabo), muitos até com revestimento de lindas
lajotas... Não nasce um pé de bananeira... Matamos a terra!
E em nome do progresso, fica terminantemente proibido
plantar quiabo, maxixe, vinagreira ou qualquer outro tipo de cultura agrícola
nesta Ilha...
Eu morei numa casa, na rua Jansen Muller 120, que tinha
poço (revestido de pedra, com água pura), um pé de goiabeira, duas mangueiras,
um cajueiro e ainda criação de galinha, pato, peru e capote... Não faltava o
ovo matinal, anunciado pelo canto das galinhas... e os pintinhos na cozinha
fazendo traquinagem..., em todo amanhecer!
Mas tudo mudou na Ilha... Até os nossos mais históricos
prédios estão se acabando...
Ontem, dei uma caminhada pela cidade e vi... Eu vi,
meninos!... Próximo ao Diamante, na rua grande, olhei, por alguns minutos, o
velho prédio onde funcionou a Secretaria de Educação de São Luís em ruínas: vai
cair... Vi o antigo prédio do SIOGE em destruição,,, Ah, meninos! Vi também a sede do Grêmio Lítero
Recreativo Português se acabando, em plena praça João Lisboa... O Moto Bar,
como era e como está?
E assim nossa cidade caminha...
Abandonada!
O galo não canta mais, a sericora foi embora, os peixes
dos nossos rios morreram, não mais existe a festa da melancia com suas barracas
de palha na beira-mar...
Ah!... O progresso chegou!
E nós perdemos a beleza da antiguidade...
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