Iris Sinoti
Todos os povos,
em todos os tempos, contam suas histórias sobre o começo das coisas, do caos à
criação do primeiro homem, até chegar à percepção do cosmos, palavra que
significa “ordem”.
Na
linguagem moderna da física quântica, a física das probabilidades, aprendemos
sobre os buracos negros, outras galáxias, dentre outros tópicos complexos que
aborda... E até sabemos que existe um universo desconhecido e que o até então
percebido pelo homem é uma pequena parte do universo. O homem moderno já não
precisa de nenhuma estória mitológica ou teológica para explicar a origem da
vida. Não são precisos postulados para se formar uma imagem coerente do nosso
mundo conhecido.
Mas,
apesar de tudo isso, existe em nós uma necessidade psicológica profunda de
encontrarmos respostas que nos expliquem: de onde viemos, para onde vamos, o
que estamos fazendo aqui? E essa necessidade não vem da mente; poderíamos
metaforicamente afirmar que vem do coração.
Algumas
religiões antigas preferiram não considerar essas questões, apenas levantavam
as mãos para os céus e esperavam que as coisas mudassem. Já para os
racionalistas, o caminho do ego sempre foi o mais cômodo: tudo o que podia ser
visto era o suficiente, e essas questões eram empurradas para os abismos do
inconsciente. Mas as questões essenciais da existência prosseguiram sem
respostas, e uma parte nossa continuava buscando as respostas. Na verdade, não
estamos conseguindo viver na maneira polarizada e confortável da mente racional
– ou isso/ou aquilo – mas buscamos, mesmo que de forma inconsciente, uma
integralidade que possibilite compreender a nós mesmos e, consequentemente,
compreender o mundo.
Claro
que ao observarmos o mundo da forma como ele nos é apresentado poderemos cair
no erro da limitada percepção do nosso ego, pois as lentes colocadas pela
cultura, religião e a família interferem diretamente na maneira como vemos e
percebemos as coisas. E mais ainda, a nossa estrutura moral também interferirá,
pois poderemos buscar apenas satisfazer os nossos desejos, e assim veremos o
mundo com os limites dessa ótica.
Durante
séculos fomos substituindo Deus. Começamos dominando a natureza, depois
chegaram as máquinas que nos encantaram, e agora nos entregamos à internet.
Metade do mundo hoje vive soterrada na abundância material e outra metade na
linha da pobreza. Metade do mundo hoje é viciada em alguma coisa enquanto a
outra deprime. Falhamos nas promessas de paz e salvação, e a maioria de nós não
encontra sentido em nada do que faz.
Como
conhecimento e sabedoria são coisas distintas, o problema retorna sempre: nós
não sabemos que não sabemos, ou seja, não somos conscientes daquilo que estamos
inconscientes. Não apreendemos aquilo que se encontra além da nossa capacidade
de apreensão. Perdemos a curiosidade sobre as coisas, as conhecemos e não nos
tornamos sábios, não sabemos que não sabemos, fomos perdendo pouco a pouco o
contato com o mistério. Nos transformamos em uma sociedade que parece
inteligente, mas que na verdade é vazia.
A
maioria dos mitos referentes à criação tentou explicar como fomos criados, mas
acredito que o importante ficou escondido: por que e para que fomos criados?
Marco Aurélio disse com sabedoria, dois milênios atrás:
“Devo me queixar por ter de fazer o que nasci para fazer,
e por cujo motivo fui trazido ao mundo? Você não sente um amor verdadeiro por
si mesmo; se sentisse você amaria sua natureza, e a vontade da sua natureza”.
É
vontade da nossa natureza que sejamos criaturas comprometidas com a criação,
conectadas com o espírito, conscientes da transcendência. O ato da criação é
encenado em todos os momentos, independente da nossa vontade, e só quando nos
disponibilizamos a descobrir a nós mesmos nos veremos como seres espirituais no
meio de um teatro mortal, mas acima de tudo filhos de Deus.
Você já
parou para pensar que existe algo no mundo que precisa se realizar através de
você?
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