Jorge Oliveira
Brasília - Parece que a bomba de hidrogênio do ditador
Kim Jong-um desviou-se do centro de lançamento na Coreia do Norte para acertar
em cheio a Procuradoria-Geral da República em Brasília. A menos de duas semanas
de deixar o cargo Rodrigo Janot foi obrigado a declarar à imprensa que o seu
principal assessor no órgão, o ex-procurador Marcello Muller, está envolvido
até a medula com a organização criminosa dos irmãos Batista – Joesley e Wesley.
Ou seja: o escândalo, aliás, o petardo,
entrou arrasando na sala de estar de Janot pulverizando a reputação do seu
trabalho à frente da PGR até então abalizado pela população.
Janot descobre, tardiamente, que os irmãos Batista fazem
parte da maior organização criminosa já montada no país para comprar políticos,
juízes, ministros, presidentes e executivos de estatais, coisa que ele sempre
negou ao autorizar a imunidade penal aos empresários. Na entrevista que deu aos
jornalistas, Janot parecia enfurecido com os Batista, depois que chegaram às
suas mãos gravações que colocam seu ex-assessor na procuradoria na berlinda.
Pelo que se sabe até agora, Muller foi o principal intermediário das
negociações dos irmãos com a PGR quando foi trabalhar em um escritório de
advocacia que prestava serviço a JBS.
A conversa confusa de Rodrigo Janot na coletiva deixa
brecha para questionamentos. Por exemplo: como do nada apareceram na
procuradoria um áudio de quatro horas acusando seu ex-assessor e um ministro do
STF, além de um político importante, quando Janot dizia ter esgotado a delação
premiada dos Batista? Por que Janot deixou a Polícia Federal de fora das
investigações que fez para descobrir o caminho da propina da JBS para os
políticos? Por que Janot deu esclarecimentos esfarrapados quando foi
questionado sobre a exoneração de Muller e a sua sociedade com um escritório de
advocacia que defendia os interesses da JBS dentro da Procuradoria-Geral da
República? Por que Janot não processou o Temer quando ele insinuou o seu
envolvimento com as negociatas dos Batista e o seu assessor-procurador?
Essas e outras perguntas Rodrigo Janot ainda deve
esclarecer à população brasileira para manter a sua biografia intocável, como
um homem acima de qualquer suspeita. Para desmentir, inclusive, as ofensas que
sofreu do Ministro do STF, Gilmar Mendes, quando o chamou de desqualificado e
de petista enrustido. As revelações desse novo áudio, que os Batista mantinham
em segredo, aparecem no momento em que um grupo da procuradoria começou a
questionar os privilégios dos irmãos no acordo celebrado com a PGR de Janot.
Alguns deles alegavam que os ilícitos cometidos pelos Batista caracterizavam a
criação de uma organização criminosa, portanto, eles não poderiam ter recebido
salvo conduto penal pela delação que fizeram, pois não estariam fora do alcance
da lei.
A prova disso é a entrevista que Joesley deu a Veja esta
semana quando afirma ter corrompido toda a república para se beneficiar do
dinheiro fácil dos bancos e dos ministérios. Diz claramente que subornou
juízes, procuradores, ministros, políticos (1.829) e todo mundo que encontrava
pelo caminho e que poderia ser empecilho ao seu caminho de bilionário. Do BNDES
levou mais de 10 bilhões de reais para comprar empresas lá fora, enquanto as
dos Brasil faliam com a administração desastrosa da economia do governo do PT.
Os fatos narrados por Joesley e Wesley, que abalaram as
finanças do país, não foram suficientes para sensibilizar Rodrigo Janot de que
ele estaria diante de uma quadrilha que sobrevivia à base da corrupção. Ao
contrário. Sempre que era questionado sobre as benesses da PGR aos irmãos
Batista saia em defesa dos empresários, argumentando que já tinha alcançado um
peixe grande (Temer) com a delação deles e, portanto, já era o suficiente para
beneficiá-los com a liberdade. Sabe-se, agora, que Janot tinha oposição dentro
da própria procuradoria que não concordava com o acordo que ele fez com os
Batista.
Na entrevista que aparentava nervosismo, Janot reafirmou
várias vezes que todos são iguais perante à lei, inclusive o Marcelo Muller. E
que pode reavaliar a delação dos irmãos Batista. Janot, que até então parecia
um cara inteligente e astuto nas suas investigações, pareceu vacilar nos
esclarecimentos. Não acrescentou nada mais do que o povo brasileiro já sabia:
Joesley e Wesley fazem parte de uma organização criminosa. Portanto, precisam
responder por seus crimes na cadeia e não dentro de seus iates luxuosos e
apartamentos milionários em Nova Iorque. E ponto final.
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