O professor Marcondes Namblá, que foi assassinado a
pauladas em Santa Catarina
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Segundo a Polícia Civil, o suspeito Gilmar César de Lima
admitiu ser o autor do crime, cometido por motivo fútil. “Ele alegou que a
vítima mexeu com seu cachorro”, revelou o delegado responsável pelo inquérito,
Douglas Barroco, descartando a hipótese de o professor ter sido assassinado
pelo fato de ser índio.
De acordo com o delegado, Lima já era procurado antes
mesmo de matar o professor indígena e havia um mandado de prisão em aberto
contra ele, por tentativa de homicídio. Ele foi encontrado escondido na casa de
uma irmã, a cerca de 50 quilômetros do local onde Namblá foi morto.
Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), Marcondes Namblá dava aulas em uma escola indígena do município de José
Boiteux, no Vale do Itajaí. Além disso, era identificado como uma das
lideranças de sua comunidade, com importante atuação pela preservação da língua
Laklãnõ-Xokleng, de sua etnia.
Aproveitando o período de férias escolares, Namblá
decidiu acompanhar um grupo de Xoklengs até Penha, onde os índios costumam
aproveitar a presença de turistas para vender artesanato. O professor, que foi
vender picolés, voltava de madrugada sozinho quando foi abordado por um homem
portando um pedaço de pau.
As imagens registradas por câmeras de segurança
instaladas próximas ao local da ocorrência exibem Namblá próximo a uma esquina,
com uma das mãos apoiadas contra um poste de sinalização. O homem que a Polícia
Civil afirma ser Lima se aproxima e parece falar algo ao índio, que não esboça
qualquer reação. Subitamente, o agressor desfere uma primeira paulada contra a
cabeça do professor, que cai no chão e continua sendo agredido. Na sequência, o
homem ameaça deixar o local, mas retorna e volta a agredir o indígena após
perceber que ele ainda se mexia.
Encontrado desacordado e com suspeita de traumatismo
craniano, o índio foi levado pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Marieta
Konder Bornhaunsen, em Itajaí, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Intolerância
A morte de Namblá e a revolta provocada pela divulgação
das imagens levaram várias entidades a cobrar agilidade nas investigações,
alertando para o que classificam como uma “onda de intolerância contra
indígenas no litoral de Santa Catarina”.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Núcleo de
Estudos de Povos Indígenas (Nepi) da UFSC manifestaram, em notas, que o
assassinato do professor um ano após uma criança kaingang de apenas dois anos
de idade ser degolada por um desconhecido nos braços da própria mãe, em
Imbituba (SC), decorre do contexto de intolerância étnica e anti-indígena no
estado. “A violência aos povos indígenas é sistemática, diária, individual e
coletiva”, sustentava o Nepi.
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