Na manhã desta quarta-feira, 14 de fevereiro, na sede
provisória da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi aberta
oficialmente a Campanha da Fraternidade (CF) 2018. Este ano, a Campanha trata
da “Fraternidade e a superação da violência”. O presidente da entidade, cardeal
Sergio da Rocha, e o secretário-geral, dom Leonardo Steiner, receberam
autoridades para o evento: a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministra Cármen Lúcia, o coordenador da Frente Parlamentar pela Prevenção da
Violência e Redução de Homicídios, deputado Alessandro Molon, e o presidente da
Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), Carlos Alves Moura.
Mensagem do Papa
O secretário executivo de Campanhas da CNBB, padre Luís
Fernando da Silva, leu para os presentes no evento a mensagem enviada pelo papa
Francisco: “O perdão das ofensas é a expressão mais eloquente do amor
misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos
prescindir. Às vezes, como é difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o
instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do
coração, a paz. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a
vingança é condição necessária para se viver como irmãos e irmãs e superar a
violência”.
No final da Mensagem, papa Francisco pediu: “Peço a Deus que
a Campanha da Fraternidade deste ano anime a todos para encontrar caminhos de
superação da violência, convivendo mais como irmãos e irmãs em Cristo. Invoco a
proteção de Nossa Senhora da Conceição Aparecida sobre o povo brasileiro,
concedendo a Bênção Apostólica. Peço que todos rezem por mim”.
Exposições
“Há alguns dados dos estudiosos que nos estarrecem”, disse
Carlos Moura. Negros e jovens são as maiores vítimas da violência no Brasil,
informou. A população negra corresponde à maioria dos 10% dos indivíduos
expostos ao homicídio no País. “É oportuno refletir sobre o Manual da Campanha
da Fraternidade”, chamou a atenção: “A violência racial no Brasil é uma
situação que faz supor uma forte correlação entre três formas de violência,
direta, estrutural e cultural. Os casos de violência direta parecem ser
resultado mais concreto e evidente de questões socioeconômicas históricas, além
de deixarem entrever representações culturalmente produzidas e já naturalizadas
a respeito da população negra, do índio, dos migrantes e, mais recentemente,
também do imigrante”.
Moura lembrou que outra Campanha da Fraternidade tratou da
superação da violência contra a comunidade negra, a Campanha de 1988, que tinha
como lema: “Ouvi o clamor desse povo”.
Nela, segundo Carlos Moura, a Igreja renovou o comprometimento da Igreja
com o combate à violência.
A ministra Cármen Lúcia, agradeceu à CNBB “pelo convite ao
Poder Judiciário para participar desse momento”. A presidente do STF disse que
hoje, infelizmente, o outro tem sido visto com desconfiança e não como um
irmão, um parceiro. “Esta campanha ajuda a ver o outro como aliado, como
irmão”, reforçou. “Não basta que se faça parte da sociedade humana, mas é
preciso atuar por ela para que se crie espaços de fraternidade”, acrescentou a
ministra.
Deputado Alessandro Molon disse: “Nós nos acostumamos com a
nossa tragédia. É como se no Brasil, a vida humana valesse muito pouco”. Ele
realçou que a Campanha da Fraternidade não é de combate à violência, mas a
superação dela. Chamou atenção para esse ano de discursos políticos é preciso
lembrar o que diz o texto-base da Campanha que lembra que se trata de um
problema complexo que não aceita soluções simplistas. “Esse carnaval nos deixou
algumas lições. Quando as autoridades se omitem, por exemplo, a violência
cresce”. O deputado ainda lembrou que todos têm responsabilidade, mas o
Parlamento deve melhorar o Direito para proteger mais a vida que o patrimônio.
Cardeal Sergio da Rocha disse que a importância da Campanha
da Fraternidade tem crescido a cada ano, repercutindo não somente dentro do
âmbito da Igreja Católica, mas em toda a sociedade civil, além de outras
igrejas cristãs. “Construir a Fraternidade para superar a violência” é o
objetivo da Campanha da Fraternidade, lembrou. “A vida, a dignidade das pessoas,
de grupos sociais mais vulneráveis têm sido atingidos frequentemente”. A
realidade da violência, no entanto, “não deve levar a soluções equivocadas”,
disse. Por conta disso, a Campanha da Fraternidade, disse o cardeal, quer
ajudar a todos para fazer uma análise profunda diante da complexidade da
realidade da violência.
“Embora que seja importante a ação de cada um de nós, mas é
preciso de ações comunitárias”, disse o presidente da CNBB. A Igreja não
pretende oferecer soluções técnicas para os problemas que aborda, mas o valor
da fé e do amor que mostra que o semelhante não é um adversário, mas um irmão a
ser amado, disse o Cardeal.
Cobertura
Todas as emissoras de TV de inspiração católica no Brasil,
cinco grandes redes e duas TVs regionais, estiveram comprometidas com a
transmissão do lançamento da Campanha da Fraternidade graças ao trabalho
coordenado pela Signis Brasil, entidade católica que se ocupa com os meios de
comunicação da Igreja. A Rede Católica de Rádio (RCR) também se fez presente
oferecendo sinal de áudio para todas as emissoras interessadas no evento.
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