Eduardo Simbalista
Passada uma semana da intervenção militar para combater “o
crime organizado e as quadrilhas de drogas” no Rio, podemos ter ao menos uma
certeza: o preço da “mercadoria”, por mais escassa, deve ter aumentado.
Aparentemente, para decisão tão urgente, o planejamento
ainda está em planejamento, os mandatos de busca e apreensão estão entre
coletivos e individuais, o interventor militar em função civil nomeará outro
general para a secretaria de segurança e promete falar à imprensa
oportunamente.
As razões da intervenção: combater a violência derivada do
tráfico de drogas, em que, na disputa por “share” de mercado, traficantes matam
traficantes e milicianos matam milicianos e impõem o terror nas comunidades? Ou
combater o tráfico de drogas, policiando fronteiras, mapeando a rede de
distribuição e implodindo os baronatos da contravenção?
Há tempos, dá-se destaque apenas à terrível guerra de
traficantes por participação no mercado. Talvez a coisa se resolvesse aí, com todas
as facções canibalizadas umas pelas outras até que não sobrasse um soldado do
tráfico. Mas não é assim: derruba-se uma facção e logo vem outra tomar o
atraente cartório.
E porque atraente? Pelo risco emocionante de morrer em
confronto? Pela exibição orgulhosa do
poderio de armas? Pela capacidade de aliciar poderosos, eleger uma “bancada” da
bala e ainda impressionar umas “mina”?
Por ser rendoso e rentável a ponto de compensar qualquer sacrifício?
Pouco se fala desse mercado tão atraente a ponto de ser
disputado numa guerra sem tréguas, com comandos dados inclusive de dentro de
presídios de segurança máxima. Um mercado tão rico a ponto de atrair até
comandantes de quartel, policiais e políticos para a promiscuidade do crime
organizado e desorganizado em que não se sabe quem é polícia e quem é bandido.
Uma pequena empresária carioca acaba de pôr a pontinha do
dedo na ferida: “no Rio, polícia cheira, madame cheira, empresário cheira,
jogador cheira, bandido cheira, bacana cheira” e, pelo visto, quer continuar a
cheirar em paz. Nenhum deles sobe o mato ou o morro para comprar. O “mato ou
morro” é a guerra das quadrilhas.
O problema talvez não esteja na favela e nos mandatos
coletivos de busca e apreensão. Apreensiva, ela se arrisca a dizer que quem patrocina
a violência no Rio é o “narizinho nervoso”, a ponta compradora do mercado. E
indaga se a intervenção não será apenas “pra galerinha descoladex da zona Sul
ficar na brisa, sentar as venta na branquinha”, que deve andar agora mais rara
e mais cara...
A empresária apenas não faz a pergunta óbvia: quanto se
economizaria em vidas, armamentos, batalhões, intervenções, inteligência,
planejamento e novos Ministérios, se a droga fosse legalizada. Em vez de
subsidiar o crime, cobrando altíssimo preço da sociedade que acaba pagando pela
farra de alguns, o Estado ainda poderia faturar um troco como já faz com a
bebida, o cigarro e o jogo. E ainda criar uma Brás para empregar gente,
angariar voto e tirar um “por fora”.
Eduardo Simbalista é jornalista e escreve para o Diário do
Poder
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