Cláudio Conti
Na conceituação comum atual, demônio é algo que assombra e
causa temor e ansiedade nos mais variados graus, dependendo da crença pessoal.
Todavia, não foi sempre assim.
Na Introdução
de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec apresenta um resumo da doutrina de
Sócrates e de Platão, filósofos gregos do século V a.C. e responsáveis por uma
mudança de paradigma na filosofia, ao ponto de ser dividida em dois períodos
distintos: Pré e Pós-Socrática. Verifica-se neste resumo que, na filosofia
socrática-platônica, se utilizava a palavra “daimon”, da qual originou a
palavra “demônio”, para designar espíritos em geral, bons e maus, em todos os
estágios evolutivos, inclusive os atualmente denominados de “anjo da guarda” ou
“espírito guardião”.
Apesar de
parecer um pequeno detalhe, a melhor compreensão do que são os demônios em sua
realidade passa a ser de fundamental importância para o entendimento de si
próprio e da relação pessoal com espíritos desta natureza, por conduzir à
certeza da transformação e que a oração surtirá efeito em todos os casos.
De forma
geral, e não apenas neste caso, as palavras trazem o peso do significado que
lhe é creditada por aqueles que as utilizam, isto se trata de uma questão
pessoal. Portanto, uma mesma palavra pode ter uma conotação negativa ou
positiva, dependendo de como e por quem é utilizada.
Um bom exemplo
desta questão é a palavra “morte”. Muitos acreditam que o seu uso pode trazer
má sorte ou que seja um tema deprimente. Todavia, esta palavra somente descreve
um processo natural pelo qual, invariavelmente, todo ser vivo irá experienciar
em algum momento e o seu uso não adianta nem atrasa o evento.
Desta forma,
não existe a necessidade de preconceitos e os temas podem e devem ser abordados
sem receio.
Com relação ao
tema principal deste texto, é preciso colocar os pingos nos is: em termos de
seres inteligentes somente existe Deus e espíritos, portanto, os denominados
demônios são essencialmente espíritos em determinado grau de entendimento sobre
a sua própria existência.
No processo de
Criação, os espíritos são criados iguais, o que pode ser apreendido de duas
características básicas da Divindade: bondade e a justiça infinitas, não
podendo, desta forma, haver privilégios. A total igualdade de seres
inteligentes somente pode ser concebida na ausência de experiências e desejos,
caso contrário, já não seriam iguais, pois, o simples fato de serem
inteligentes já estabelece que haverá algum tipo de diferença no entendimento
de uma vivência qualquer.
A criação de
seres inteligentes iguais, mas fora da condição de simples e ignorantes,
estabeleceria uma tendência preestabelecida, portanto, com o livre arbítrio
comprometido, isto é, a liberdade de escolhas não seria total. Espíritos em um
nível evolutivo ainda baixo não têm seu livre arbítrio limitado, como pode se
pensar, porém, as suas possibilidades de ação que estão limitadas em
decorrência da falta de conhecimento necessário para voos maiores. A limitação
das possibilidades, como um processo natural, também se estabelece nos
espíritos equivocados em decorrência de suas próprias escolhas e interesses. A
limitação de ação, assim, não é imposição, mas consequência.
No livro O Céu
e o Inferno, Kardec diz que "Segundo o Espiritismo, nem anjos nem demônios
são entidades distintas, por isso que a criação de seres inteligentes é uma só…
Deus criou-os perfectíveis e deu-lhes por escopo a perfeição, com a felicidade
que dela decorre. Não lhes deu, contudo, a perfeição, pois quis que a obtivessem
por seu próprio esforço, a fim de que também e realmente lhes pertencesse o
mérito".
A humanidade
ligada a um planeta não é constituída apenas de encarnados, mas também de
desencarnados e o processo evolutivo é válido para ambos os casos e sujeitos às
mesmas regras de consequências dos atos.
Tomando o
planeta Terra como exemplo, a humanidade abrange uma larga faixa de níveis
evolutivos em constante troca de experiências, estando em contato muito
próximo. O contato, portanto, é obrigatório, mas compartilhar interesses é
opcional.
No artigo
intitulado Ordens dos Espíritos e a Afinidade Psíquica, publicado no jornal
Correio Espírita em junho de 2016, foi apresentado o ponto em comum dos
habitantes da Terra: o orgulho. O contato entre espíritos com pontos em comum
se faz necessário para que se possa dimensionar as consequências das opções,
isto é, do livre arbítrio.
O orgulho, de
uma forma ou outra, conduz a opções inadequadas para o espírito, isto é, ao
mau. Desta forma, sob certo ponto de vista, todos os espírito ainda ligados a
um mundo de expiação e provas como a Terra apresentam uma parcela demoníaca, no
conceito comum do termo, por inflingir o mau a outrem.
Portanto,
pode-se concluir que, em certas categorias de mundos, ser “demônio" ou não
é apenas uma questão de referência. Todavia, não significa um estado
permanente, todos se transformam e a prece é uma ferramenta fundamental que
pode e deve ser utilizada para si mesmo e para outros.
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