José Sarney
A condição humana é uma expressão que pode significar
várias coisas: a fragilidade do homem e a inevitabilidade da morte, com
Montaigne; o engajamento revolucionário, a solidão, o medo, como André Malraux
num dos romances mais importantes do século XX; para os mais humildes, pura e
simplesmente a sobrevivência, a sua situação na sociedade.
O primeiro motivo do político é esta visão da condição
humana. É a sua transformação, a busca da felicidade — no fecho da fórmula
feliz que Thomas Jefferson colocou na Declaração de Independência americana —,
que nos leva a lutar. O medo da morte, que nos leva a construir a sociedade, é
superado pelo medo da vida, que nos expulsa dela, que exige de cada um mais que
o esforço e o trabalho, a sorte, o acaso, para poder levar para casa o pão de
cada dia. O medo do desemprego.
Foi essa a ideia que me levou a afastar sempre as receitas
clássicas de combater a inflação com recessão.
O Brasil enfrenta, hoje, como seu problema mais grave, uma
crise de emprego terrível. A grande dificuldade do governo federal tem sido
encontrar um equilíbrio entre a solução de crescer com inflação e a de acabar
com a inflação para crescer. Com esta opção, temos hoje 14 milhões de pessoas
desocupadas, entre as que procuram emprego — as que nem procuram mais são três
milhões. A taxa de desemprego é de 13,1%. Mais de quatro milhões desistiram de
procurar emprego. Mais de 26 milhões de pessoas queriam trabalhar mais, mas não
conseguiram. Pensem em cada pessoa sem esperança, e depois juntem a ela cada
uma das outras, .
Presidente da República, tive bem presente essa ameaça,
para mim a mais danosa, pois destrói a dignidade do homem. Vínhamos de grandes
níveis de inflação e de desemprego. Resolvi buscar outra solução, e para isso
mandei estudar os planos de Israel e da Argentina, que tentavam caminhos novos.
Fiz o Plano Cruzado, com a coragem do congelamento de preços. Sem ele não
teríamos saído da recessão. Com ele alcançamos o menor nível de desemprego de
nossa História — 2,16% —, e o mantivemos baixo até o fim do governo, tendo uma
média de 3,59% — praticamente o pleno emprego. A inflação — preço que pagamos —
vinha com correção monetária, isto é, o salário, no fim do mês, comprava o
mesmo. Embora isso complicasse a economia, mais complicaria não ter salário no
fim do mês, e, portanto, as compras não existirem.
E aqui no Maranhão?
O emprego estava crescendo no período de Roseana. A taxa de
desocupação caíra em 2014 para 7,4%. Depois de seu governo ela subiu: em 2015
foi para 8,6%; em 2016 para 11,7%; em 2017 para 13,3% — 359 mil pessoas. Em São
Luís ela subiu de um nível já muito alto — 11,3% —, para se tornar o maior das
capitais brasileiras, 19,8%.
Esta semana novos índices retratam a situação terrível de
nosso Estado e de nossa gente: cresceram os índices de pobreza extrema. No
Estado, hoje, são cerca de um milhão e 200 mil pessoas; e em São Luís, onde ela
explodiu, aumentando 48%, são 147 mil.
Esses números, é claro, não nos alegram. Ficamos com pena
do povo maranhense, na última das situações, que é o desemprego. A “mudança”
veio, mas foi essa.
Volto a lembrar que é o sofrimento, a situação de cada
pessoa que tem que ser levada em conta pelo político. A frieza dos números
obscurece a carga trágica que cada uma delas carrega, a dor cotidiana, o
desânimo, a desilusão, a ansiedade, a fome, as doenças. A condição humana, que
cada um deseja transformar para alcançar a felicidade, não pode ser abstraída
da realidade pessoal. Ela é a soma de todos os infinitos sentimentos humanos,
de suas condições materiais, de sua força espiritual. É a imensa lição que
essas pessoas nos dão: apesar de tudo, ter esperança.
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