Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte - MG
A civilização está dominada por extremismos de todo tipo,
que se manifestam em contextos diversos – do universo religioso ao mundo da
política, da cultura às pessoas. Os extremismos revelam que a sociedade sofre
com sério desequilíbrio. Isso exige todo o empenho analítico de especialistas
para que sejam alcançadas indispensáveis práticas educativas, capazes de
qualificar as relações sociais e humanitárias.
Afinal, não se pode justificar o radicalismo com o argumento de
fidelidade a algo ou alguém, perdendo, assim, a competência de enxergar para
além do “próprio quadrado”.
Causas nobres, enraizadas em princípios com profunda
significação, têm se transformado em dinâmicas perigosas, radicais, que
comprometem a paz e a solidariedade fraterna. Quando se radicaliza as posturas,
o outro que não partilha as mesmas convicções, vira adversário, verdadeiro
inimigo a ser combatido. Uma situação que faz surgir o terrorismo, a violência
de todo tipo, a indiferença, a busca por ideologias políticas que já perderam o
sentido e as disputas mesquinhas. Em segundo plano fica a solidariedade,
particularmente para com os pobres - ganhando força uma dinâmica que retarda
avanços humanitários, mesmo com tantos recursos tecnológicos disponíveis.
Os extremismos, portanto, precisam ser cada vez mais
compreendidos e tratados a partir de estudos filosóficos, sociais e
antropológicos, com a colaboração de outros campos do saber. Todos devem “abrir
os olhos” e reconhecer a gravidade desse fenômeno, urgentemente, pois os
radicalismos, quando ignorados, tornam-se mais difíceis de serem combatidos.
Por isso mesmo, são necessários investimentos, não somente em estudos e
pesquisas, mas especialmente na partilha do conhecimento, para ajudar a tecer
nova consciência social.
Os radicalismos agravam os problemas de segurança pública,
acentuam o desrespeito à integridade de cada pessoa na sua dignidade,
contribuem para a expansão da miséria e da exclusão, que geram, entre outras
consequências, as migrações de povos. Os extremismos são um fenômeno de alcance
global, mas que deve ser compreendido também a partir de suas manifestações nas
situações cotidianas, na conduta de indivíduos. Assim é possível tecer novas
dinâmicas capazes de transformar as atitudes do dia a dia que, atualmente,
inviabilizam uma sociedade justa e solidária. Dos amplos e profundos estudos às
transformações na postura de cidadãos, eis o desafiador caminho para vencer os
extremismos. Isso porque a velocidade na disseminação das informações, com a
profusão de conteúdos diversos, a partir das redes digitais e meios de
comunicação, contribui para que a humanidade desaprenda a enxergar sentido nas
coisas.
A sociedade contemporânea produz gente “antenada”, em busca
das informações, com facilidade para lidar com tecnologias e, no entanto, ao
mesmo tempo, indivíduos pouco habilidosos quando avaliados a partir das
perspectivas humana e espiritual. E os que não dominam essas habilidades,
correm sempre o risco de considerarem muito importante fazer de tudo para
proteger o que é pouco significativo.
Além de tornar-se normal sacrificar o mais importante para
preservar o que é secundário, há uma incapacidade na compreensão do outro.
Percebe-se um enrijecimento que atrapalha a consideração de diferentes
perspectivas, o entendimento mais amplo da história. Ao mesmo tempo, tudo é
submetido a julgamentos a partir de critérios subjetivos altamente
prejudiciais. Sem conseguir ir além das próprias convicções e vontades,
indivíduos se fecham para situações que poderiam ajudá-lo a evoluir, inclusive
contribuir para a sua abertura ao exercício da generosidade e da gratidão. Também por isso, a sociedade, saturada de
extremismos, não consegue estabelecer dinâmicas de reconciliação.
Urge a reconquista de equilíbrios, o que inclui a recuperação
do autêntico sentido das diferentes causas e das práticas religiosas. A vitória
sobre os fanatismos envolve superar a convicção de que o próprio ponto de vista
é a bandeira única da humanidade. Eis um passo fundamental para superar os
extremismos e garantir mais fraternidade às relações sociais.
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