Jorge Oliveira
Brasília - A reforma política que deu poderes aos
presidentes de partidos para que eles distribuam bilhões de reais durante a
campanha deste ano será responsável, provavelmente, por um grande desvio de
dinheiro público semelhante aos escândalos dos últimos anos. Ao transformar
esses donos de legendas em coronéis financeiros, a legislação permite que eles
selecionem os candidatos que devem receber suas cotas para gastar na campanha à
sua melhor conveniência. Os que se sentirem prejudicados certamente vão entrar
na Justiça e o R$ 1,7 bilhão do fundo eleitoral pode ser suspenso interrompendo
campanhas em alguns estados.
A ideia da criação do fundo era evitar que empresas
participassem com dinheiro lícito ou ilícito nas campanhas, depois da
descoberta da maior rede de corrupção do país com a geração do caixa dois por
meio de contratos fraudulentos das empreiteiras com as empresas públicas. Pois
bem, a nova lei, agora, deixa nas mãos dos presidentes dos partidos, muitos
envolvidos na Lava Jato, a divisão do dinheiro para cada candidato nos estados.
Abre-se, assim, é claro, uma janela para fabricação de notas fiscais frias e
outros artifícios para justificar a saída desses recursos bilionários para
centenas de candidatos no país.
Ora, se o Congresso legislou para moralizar as eleições, na
prática, a realidade é outra. Ninguém sabe – nem advogados especializados –
como será feito o rateio dessa fortuna na campanha. Até o momento, os
candidatos majoritários, principalmente, desconhecem como vão fazer suas
campanhas e como devem receber suas cotas, o que impede que eles contratem produtoras,
marqueteiros, gráficas e montem a infraestrutura da campanha. Ganha quem
apostar que esta será a eleição mais fraudada da história se os tribunais não
forem vigilantes com a distribuição desse fundão.
O mais grave, porém, são os buracos na legislação que dão
margem a corrupção e o desvio de recursos do fundo eleitoral. Candidatos
medíocres, os porcas urnas, aqueles de pouca importância – ou nenhuma - numa coligação partidária, vão ressurgir nas
eleições. Muitos aparecem nessas horas para extorquir empresários. Outros, mais
habilidosos, apresentam-se como laranjas.
Existem, no entanto, aqueles que estão no mandato e vão apelar para se
reeleger. Preteridos na distribuição da cota, vão correr atrás do dinheiro fácil.
Políticos experientes, com quem conversei, alertam que esse
dinheiro invisível poderá vir do tráfico de drogas. Dizem que, a exemplo do
surgimento das bancadas dos evangélicos e dos ruralistas no Congresso Nacional,
os traficantes também se preparam para ocupar espaço na política e formar seus
ninhos no congresso financiando candidatos. Em doses homeopáticas isso já vem
ocorrendo. No Rio, a deputada federal Cristiane Brasil, filha de Roberto
Jefferson, e o deputado estadual Marcus Vinicius (PTB), respondem a processo
por associação ao tráfico, depois da descoberta de que traficantes do bairro de
Cavalcanti ajudaram a elegê-los.
Ora, não é difícil supor que candidatos sem acesso ao fundo
eleitoral recorram ao dinheiro fácil da droga para bancar suas campanhas, já
que o caixa dois – se existir – estará muito vigiado e alguns desses políticos
vão preferir o dinheiro “não contabilizado” para financiar suas campanhas. O
Brasil, na América do Sul, não seria o único país com uma bancada financiada
pelo narcotráfico. É bom lembrar que na Colômbia até o chefão Pablo Escobar
representou a sua turma na Câmara dos Deputados eleito legitimamente pelo voto
popular.
Portanto, não seria de se estranhar que o narcotráfico e as
facções criminosas, que agem dentro dos presídios, comandassem ações aqui fora
para criar uma base política de defesa de seus interesses no Congresso
Nacional.
No comércio das drogas, o Brasil não está tão longe dos
cartéis colombianos.
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