Faveco Corrêa
Infelizmente, parece que o Brasil se transformou no país
onde a perspectiva é pior do que a realidade. Por incrível que pareça.
Nossa triste realidade todos conhecemos bem, agora agravada
pelo inaceitável caos provocado pela greve dos caminhoneiros, impasse
pessimamente administrado pelo governo: corrupção generalizada, 14 milhões de
desempregados, boa parte deles desistindo de buscar trabalho, mercadoria cada
vez mais escassa, continuo empobrecimento da população já atingindo em cheio a
classe media, que não consegue mais custear os estudos de seus filhos nas
escolas privadas nem pagar o condomínio, infraestrutura sucateada, saúde em
frangalhos, insegurança total, violência campeando, educação de baixo nível,
economia rateando, dólar batendo recorde, bolsa caindo, etc., etc.
E dizem que nossa democracia está forte porque as
instituições estão funcionando bem...
Cada vez menos brasileiros acreditam nisso. Basta ver as
pesquisas de opinião, que revelam claramente que o povo está farto de tanta
roubalheira, desmando, descaso com a coisa pública, falta de vergonha e
respeito e que quer mudança, venha ela de onde vier.
Vejamos o lastimável estado atual das nossas instituições:
O executivo em estado terminal, fraco, sem apoio das
“bases” para promover reformas, envergonhado e paralisado, vítima de denúncias,
umas atrás das outras, envolvendo o Chefe da Nação, sua família, amigos e
ministros mais próximos.
O legislativo seguindo fielmente a sua cartilha de legislar
em causa própria, como fizeram agora demagogicamente seus integrantes aprovando
de afogadilho projetos para aplacar a fúria dos donos das estradas, além de
outras barbaridades como a criação do execrável fundo eleitoral. Nossos
parlamentares não demonstram a menor intenção de olhar para os lados e ver que
mais de 200 milhões de brasileiros esperavam que os representantes do povo
cuidassem do povo, e não só deles. Agora, então, com Copa do Mundo e eleições,
nem pensar.
O judiciário, cuja representação máxima é o Supremo
Tribunal Federal, perdendo vertiginosamente seu prestígio e se transformando na
maior fonte de insegurança jurídica.
Falando em STF, nunca entendi porque os personagens que o
compõem se transformaram em imperadores, em ditadores (além de “celebridades e
“pop stars”), fazendo o que bem entendem monocraticamente sem nenhum controle
da sociedade. O ministro soltador geral da República acaba de consumar mais
algumas de suas peripécias liberando mais um bando de criminosos, inclusive o
Paulo Preto, o coitadinho que não merecia ficar preso mesmo tendo contas
bancárias na Suíça de mais de mais de 34 milhões de dólares e de ser acusado de
desviar milhões de reais das obras do Roboanel para beneficiar seus patrões tucanos
entre eles o “ínclito” senador Jose Serra. Esta solerte manobra do prelado em
causa aliviou a barra do tucanato, que estava morrendo de medo que o operador
mor do seu propinoduto abrisse a boca a atirasse muita “sujeira” no ventilador.
E a perspectiva?
Olhando o quadro pré-eleitoral atual, dá para ter alguma
esperança de que venhamos a eleger um verdadeiro estadista para o comando do
Executivo? Como nos ensinou Benjamin Disraeli, primeiro ministro britânico do
século 19, “estadista é o que pensa nas próximas gerações, político é o que
pensa nas próximas eleições”. Entre os candidatos melhor posicionados,
incluindo Lula, que ainda pode ser beneficiado por mais uma escandalosa manobra
do STF que o torne elegível (convém não esquecer que dos 11 ministros do
Supremo 7 foram nomeados pelo PT), é possível identificar o estadista que tanta
falta está nos fazendo?
E o Congresso? As velhas raposas, inclusive as dezenas de
postulantes que estão sendo investigados pela Lava Jato, alguns já
transformados em réus, podem muito bem se reeleger e manter o foro
privilegiado, já que da nossa grana que surripiaram (cerca de 3 bilhões de
reais, entre fundo partidário e eleitoral) a maior parte vai ficar com elas
mesmas, graças às manobras dos donos dos partidos políticos aos quais
pertencem. Tenho a impressão de que a sonhada renovação que almejávamos irá pro
brejo. Aqueles que pensavam que o parlamento seria purificado e que ficaria
livre dos Renan Calheiros e Romeros Jucás desta vida já estão tirando o
cavalinho da chuva e assumindo que este não passa de mais um sonho de uma noite
de verão. Afinal, com um eleitorado de mais de 140 milhões que é obrigado a
votar, grande parte dele pobre ou beirando a pobreza e analfabeta funcional, dá
para esperar grandes revoluções cívicas? Não é querer demais que assim seja?
Lembremo-nos de Ulisses Guimarães: “se vocês estão descontentes com o atual
Congresso, esperem para ver o próximo”. Sua ameaça está em vias de se consumar
mais uma vez.
E o poder judiciário? Quando haverá a renovação do “pretório
excelso”, cujos integrantes, graças à Lei da Bengala, só se aposentam
compulsoriamente aos 75 anos de idade? A idade média atual deles é 60 anos, os
mais jovens sendo Alexandre de Moraes, nascido em 1968 e Dias Tofolli, que tem
50 anos e, que, portanto, poderá ficar por lá mais 25. Como a sociedade não
consegue emplacar nenhum impeachment de ministros do STF, apesar de várias
tentativas frustradas (ler artigo de Modesto Carvalhosa na Veja de 2 de maio),
renovação da Suprema Corte fica para as calendas gregas...
Por essas e muitas outras, tudo indica que para o Brasil
pior do que a realidade só a perspectiva.
Lamentavelmente.
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