Edson Vidigal
Lembrar a estas alturas devagar com o andor que o santo é
de barro já não faz sentido porque se vê não de agora, mas de há muito, que a
fragilidade do santo enfraquece também os que carregam o andor desfalcando a
crença dos fies em geral nessa procissão.
A democracia não sobrevive sem eleição, mas eleição não
serve de nada se os resultados não traduzem legitimidade aos proclamados
eleitos. Aí está a raiz nua do desgaste intenso.
O Estado como invenção da sociedade para gerir o bem comum
restou dominado pelo mecanismo que em função dos seus visíveis e invisíveis
interesses se espraia controlando por seus asseclas as grandes decisões só
aparentemente ditadas em função do bem comum.
Já na contagem regressiva para o dia das eleições, mais se
vê o desinteresse, a apatia, o baixo grau de informação entre a maior parte dos
eleitores.
Entre os pretendentes à Presidência, um desfile de almas
macambúzias. Propostas mirabolantes para um País quebrado, uma sociedade
descrente nos políticos, nos governos, no Estado. A verdade sobre o real das
coisas quem a conhece se omite a dizê-la achando que pode perder votos.
Como diria Bernard Shaw, quem acha que sabe diz que faz; quem
não sabe nada, até ensina.
Ora, como conduzir um presidencialismo com 26 partidos
políticos no Congresso? Muita dentada para pouca rapadura, diria nosso inefável
Lister. E essa é a melhor forma de gerir? Já perguntou Pedro Parente.
Antes de tudo, a democracia. Mas sem informação livre, sem
debate consciente, sem motivação politica, sem espirito público, desprendimento
cívico, respeito à opinião do outro e tolerância à condição do outro,
impossível achar a trilha pela qual se possa alcançar a democracia.
Cinquenta milhões de brasileiros não tem cobertura local de
rádio, TV ou jornais. Desses, 25% quando muito veem imagens de redes nacionais
ou regionais. De política mesmo, entendem pouco. Ou nada.
As eleições deste ano, novamente, serão decididas pelos
analfabetos políticos. Segundo o TSE, num total de 147 milhões, 302 mil e 344
eleitores, (52, 503% mulheres e 47,454% homens), 6 milhões, 574 mil, 110
(4,463%) se declararam analfabetos.
Apenas 13 milhões,147 mil, 191 (8,925%) disseram que leem e
escrevem. 10 milhões, 030 mil, 145 (6,809) completaram o fundamental. 24
milhões , 864 mil, 060 (16,880%) não completaram o segundo grau. 13 milhões,
576 mil, 120 (9,216%) tem curso superior completo. 7 milhões, 313 mil, 627 não
completaram o curso superior.
Diante desse cenário, tendo como fundo sonoro o coronelismo
eletrônico ainda dominante na maior parte do País, é fácil entender por onde
começa a ilegitimidade da representação politica que faz do Congresso Nacional
e demais Casas ditas legislativas indisfarçáveis feiras onde o que há de mais
valioso para as esperanças populares nas eleições é posto em leilão valendo
moedas de troca, as mais diversas.
Há sussurros entre brasileiros bem intencionados num
movimento para que nenhum dos que já estão lá seja reeleito. Ingenuidade
cívica. 1 bilhão e 700 milhões foram tirados da saúde, da educação, da
segurança públicas, das estradas para distribuição entre os partidos.
Terão mais dinheiro os candidatos à reeleição, assim
decidiram os donos dos partidos, donos do mundo da política no Brasil. Isso, um
dia que espero não demore muito, há de ter fim. Há de ter fim.
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior
Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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