SAÚDE CRÔNICA: Precisamos falar sobre o suicídio
Fonte – Ministério da Saúde
18/07/18
O vento soprava gelado naquela manhã. Sentado no ponto,
enquanto aguardava o ônibus, eu observava a forma como a brisa balançava
suavemente as folhas da árvore em frente. A cor azulada no início do dia
contrastava com o amarelado das plantas secas e ajudava a tornar aquela
paisagem bucólica, me fazendo pensar ainda mais no acontecimento dos últimos
dias, o que deixava minha boca seca e com o amargo gosto da tristeza.
Há exatamente uma semana, às oito e meia da manhã, eu
estava no trabalho pronto para escrever uma reportagem. Foi quando recebi a
notícia que um colega havia se suicidado. Isso me atingiu como um raio. Fiquei
tonto e precisei de uns minutos para tentar entender, mas foi em vão. Continuei
perdido. Eu estava em choque!
Não conseguia acreditar que aquele rapaz novo, sempre
sorridente e brincalhão havia tirado a própria vida. Busquei na memória por
algum indício que ele pudesse ter deixado escapar e que o levasse a esse triste
fim. Talvez ele tivesse dito uma palavra, algum pedido de ajuda silencioso, mas
não fui capaz de encontrar nada. E aquilo me marcou. Será que eu ou outra
pessoa poderia ter feito alguma coisa para ajudar?
Enquanto me sentava em uma cadeira mais afastada no ônibus,
mantive a visão das folhas que balançavam. Já escrevi algumas reportagens sobre
suicídio e sei que existem inúmeros motivos que podem levar uma pessoa a tirar
a própria vida. Nenhuma que eu ache justificável, mas as razões estão lá. A
depressão é uma delas, pois causa uma tristeza que dificulta ações simples como
levantar da cama, comer, trabalhar ou estudar.
Eu entendo que por séculos o suicídio foi um assunto de
certa forma proibido, por se acreditar que poderia influenciar outras pessoas.
Essa ideia, chamada de “Efeito Werther”, vem do fato de que muitas pessoas
tiraram a vida depois de ler o livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, do
alemão Goethe, e assim se formou a ideia de que quanto menos o suicídio for
exposto, menos ele pode influenciar outras pessoas.
Mas precisamos falar disso! Precisamos de informações
sérias, corretas e sem glamour! Atualmente onze mil pessoas decidem tirar a
vida no Brasil. E esse número está crescendo a cada ano. Por isso, o suicídio
precisa ser discutido seriamente. É um problema real e não pode ser escondido
nem das crianças. Nos últimos 10 anos o suicídio de crianças entre 10 a 14 anos
aumentou 31%, e nos jovens de 15 a 19 anos, subiu 26%.
A maioria dessas mortes tem sinais claros e o primeiro
passo para evitar que uma pessoa tire a própria vida é estar atento aos sinais
verbais e comportamentais que ela dá. O sentimento de culpa por não ter visto
esses sinais mata um pouco cada uma das pessoas que amam quem se foi. E vamos
esquecer o mito de que quem fala sobre suicídio não tem coragem de
concretizá-lo. Em muitos casos, a pessoa que passa por problemas e tem
pensamentos extremos que podem levar ao suicídio, pode ser ajudada com uma
conversa. E hoje, tudo que eu queria era ter conseguido, era conversar com meu
colega...
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