sábado, 4 de agosto de 2018

Da humildade


José Sarney


Depois da rotina das pesquisas de opinião, governar ficou mais humilde. O poder tem muitas definições e é acusado de produzir muitos efeitos. É considerado perigoso, com aspectos transgênicos que transformam normais em super, fracos em fortes, fortes em débeis, ignorantes em sábios, sábios em bobos, honestos em amorais e estes em respeitáveis criaturas. Aguça vaidades, constrói cegueiras, instiga a maldade e, não raro, transforma virtuosos em pecadores. Mas há os que nele descobrem outras virtudes, como Clinton e Kissinger, que o consideram afrodisíaco, sedutor e sensual. Há os que o vivem como sublimação de vaidades e prazeres. Tem todos os gostos.

Mas o poder político, síntese de todos os poderes, é nobre. Intrinsicamente é bom, seus pressupostos são o governo da sociedade e o bem geral, construído ao longo do tempo, para possibilitar o ordenamento da sociedade e do Estado. Os antropólogos acompanharam o surgimento do poder (como nasceu, como se estruturou, a quem serviu) desde as tribos primitivas até a sofisticação dos tempos atuais, como um instrumento necessário aos níveis de conviver.

Como a criação do homem tem duas faces, é tudo isso e nada disso. O poder, por definição, dá às pessoas a faculdade de se fazer obedecer, pela força, por outras pessoas. É uma arma tão perigosa que Deus, detentor absoluto de todos os poderes, se revelou para não exercê-lo e sufocar o livre arbítrio da criação. E, assim, foi humilde.

O poder se desdobra.
Há poder pessoal e há poder coletivo, mas este, em geral, transforma-se em pessoal, pela tendência a ser delegado. Weber diz haver uma espécie de poder pago pela sociedade, entre cientistas, que não deve ser exercido “como empresarial”.

O poder é sempre ardiloso. No terreno abstrato, a religião tentou cercá-lo pela invocação de preceitos morais. No campo da realidade, criou-se a lei, um poder atemporal e impessoal, como uma maneira de enquadrar os governos, o Estado de direito, das leis e não dos homens, com o controle de um poder sobre o outro, na busca de equilíbrio e harmonia.

Destaco uma característica no poder que deve ser meditada por todos que o exercem: o princípio e o fim. Quando acaba, não resta nada. Plácido Castelo, antigo governador do Ceará, numa imagem simples, falava que o “poder é uma caneta com prazo marcado”. Quando acaba a tinta, não escreve mais. É o que está acontecendo com a de muitos que agora estão em desespero, porque sentem que está chegando ao fim.

Essa noção de fugacidade desperta o único e definitivo antídoto contra suas demoníacas tentações: a necessidade de sermos humildes no exercício do poder. Se exercido com humildade, quando desaparece não faz falta, não destrói as pessoas. A humildade não faz mal a ninguém. Ela é tranquilizadora, benéfica e ajuda a viver.

Isto é o que tem faltado e tem transformado os tempos atuais no Maranhão em tempos de arrogância, de autoritarismo e de desprezo às pessoas.

Certa vez estava com Tancredo e resolvemos indagar quais as dez maiores virtudes para governar. Tancredo falou em primeiro lugar.

Bateu na minha perna e disse: “As sete primeiras são humildade e paciência; as três que faltam você, Sarney, pode preenchê-las.” “As minha três também são em primeiro lugar humildade, em segundo paciência, e em terceiro humildade.”

São duas coisas que têm faltado atualmente no Maranhão: paciência para ouvir e tratar bem aqueles que necessitam ser tratados bem; e humildade, inimiga da arrogância, da perseguição, do ódio, da inveja — e amiga de Deus.

Quero acrescentar também uma advertência: aqueles que fingem e simulam fé não enganam ninguém. Os fariseus são bem conhecidos e aqui, agora, escondem seu autoritarismo e simulam fé. Que bom te ver, Roseana, e saber que vamos ter paciência, humildade e fé.

José Sarney

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