sábado, 8 de setembro de 2018

CADA POVO TEM OS GOVERNANTES QUE MERECE?


Por Edson Travassos Vidigal


Quando criticamos nossos (pseudo)representantes eleitos - nossos pUderosos de plantão - logo nos soltam uma pérola da sapiência popular, já surrada pelo uso constante: “cada povo tem os governantes que merece”. Tal frase é usada à exaustão por aqueles acomodados com nossa situação de degeneração política vigente, aqueles que preferem se esquivar de suas responsabilidades e culpar o ente abstrato “povo” pelas mazelas que vivemos, ao invés de se esforçarem em fazer por merecer viver em uma sociedade digna, livre de pUderosos e de outras espécies de mazelas sociais.

Na verdade, essa frase, atribuída ao filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821), monarquista convicto e crítico fervoroso da Revolução Francesa, teria sido “pinçada” de uma carta sua escrita em 1811, publicada 40 anos mais tarde. A citação faz referência à ignorância do povo, que na visão do autor seria a responsável pela escolha dos maus representantes. Contrário a participação do povo nos processos políticos, o filósofo francês pregava que os desmandos de um governo cabiam como uma punição àqueles que tinham direito ao voto, mas não sabiam usá-lo.

Pois bem, não obstante todos os seus problemas, como bem disse Winston Churchill , “a democracia é a pior de todas as formas de governo, excetuando-se as demais”. Tá certo que esse mesmo cara também disse “eu aproveitei mais o álcool do que ele se aproveitou de mim”, mas isso não é motivo suficiente pra desmerecer todo o seu pensamento, não é verdade?

O fato é que a democracia, o tal do governo do povo, por mais que pouquíssimas almas vivas tenham ciência disso, é um mecanismo que visa evitar a concentração de poderes nas mãos de um ou alguns indivíduos, justamente criando um caos político tal que crie uma perpétua instabilidade do poder político, assim enfraquecendo cada um dos jogadores desse jogo, por meio dos demais. Ou seja, jogam-se os pUderosos uns contra os outros, para que eles próprios se enfraqueçam e, no fim, saiam ganhando com isso os indivíduos, que ficarão um pouco menos fracos em relação a seus governantes e seus abusos, assim acabando por se constituírem, também, em força política, fazendo parte do jogo.

Entretanto, um outro vetor tem que ser levado em consideração: O PODER ECONÔMICO. Este poder, caso não seja limitado por nossas instituições democráticas, acaba por subjugar todos os jogadores enfraquecidos dessa guerra chamada democracia. Principalmente o mais fraco de todos - o povo. Assim, até aproveitando-se do caos político, da desejável instabilidade do poder político, o poder econômico domina a política, a população, os países, a democracia, o constitucionalismo, o direito, enfim, todas os mecanismos que deveriam nos proteger de abusos.

E é o que temos visto diariamente nos jornais. O poder econômico dominando nossa agenda política, decidindo nossas eleições, conduzindo nossas políticas públicas, nossos deputados, nossos governantes, até mesmo nossos juízes, e, por fim, nossas vidas.

Se o tal do “povo” (que ninguém sabe ao certo o quê ou quem é) não está preparado para votar, por que então é obrigado a fazê-lo? Sem educação, sem cultura, sem nem ao menos ter o mínimo de dignidade para viver, como alguém pode estar preparado para decidir sobre o futuro de um país? Como alguém pode parar pra pensar sobre o futuro, sem nem ao menos ter certeza do presente? É claro que alguém que depende de sobreviver a cada dia sempre será imediatista, irresponsável em relação ao futuro, em relação aos demais membros da coletividade. Como diz o ditado popular, “se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”.

O fato é que, como podemos perceber, o “povo” não está preparado para votar (e nunca esteve tão despreparado como nos últimos tempos), e quem diz o contrário, desculpe-me, mas ou é hipócrita, ou alienado total. E claro, quando digo isso, não estou chamando de povo uma classe social específica, ou um grupo específico de pessoas. Na verdade, o “povo” é um ente abstrato que representa todos nós. Eu sou o povo, você é o povo. O povo é uma abstração jurídica que deve tomar as decisões, que deve exercer o poder político de nosso Estado. Na medida em que o exercemos, em que exercemos nossa cidadania, cumprimos com nosso papel de “povo”. Quando não, o “povo” fica vazio.

E é o que está acontecendo. O “povo”, este ente abstrato, está vazio. Esvaziado propositalmente por uma leva de políticos que, aproveitando-se da tolerância política da democracia, da instabilidade econômica por eles próprios gerada em decorrência do saqueamento do Estado por irresponsabilidades, políticas populistas e despreparo mesmo, e da ingenuidade de uma maioria que não tem acesso aos meios que propiciam o bom discernimento, resolveu se aliar ao poder econômico (e especialmente a empresários corruptos) para se perpetuar no poder.

e quem realmente decide as eleições é essa parte da população desprovida de conhecimento, que não tem acesso a dados sérios, e tampouco capacidade de interpretá-los, pois foram reduzidos a meros repetidores de discursos simplistas elaborados por quem os mantém de propósito nesta situação. E essa é a maioria esmagadora do eleitorado de nosso país, onde se concentra, claro, os eleitores desta leva de políticos citada.

A verdade é que todos os candidatos, sejam do grupo que forem, precisam e querem os votos desse eleitorado. Por isso ninguém tem coragem de atacar tais governos recentes. Por isso todos seguem rezando a cartilha da hipocrisia eleitoreira: prometer descaradamente medidas populistas que sabem que não podem cumprir, que sabem ser absurdos infantis, mas que sabem que são as palavras mágicas para conquistar o voto de um povo reduzido à condição de indigente pedinte.

Como sempre afirmo: o único problema da Democracia é a ignorância. E o único remédio para a ignorância é a educação.

Não existe outra saída. Ou preparamos nosso povo para a democracia, ou sempre teremos esses governantes aí. Esses que, dizem, são os que merecemos...

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