Por Edson Travassos Vidigal
Quando criticamos nossos (pseudo)representantes eleitos -
nossos pUderosos de plantão - logo nos soltam uma pérola da sapiência popular,
já surrada pelo uso constante: “cada povo tem os governantes que merece”. Tal
frase é usada à exaustão por aqueles acomodados com nossa situação de
degeneração política vigente, aqueles que preferem se esquivar de suas
responsabilidades e culpar o ente abstrato “povo” pelas mazelas que vivemos, ao
invés de se esforçarem em fazer por merecer viver em uma sociedade digna, livre
de pUderosos e de outras espécies de mazelas sociais.
Na verdade, essa frase, atribuída ao filósofo francês
Joseph-Marie Maistre (1753-1821), monarquista convicto e crítico fervoroso da
Revolução Francesa, teria sido “pinçada” de uma carta sua escrita em 1811,
publicada 40 anos mais tarde. A citação faz referência à ignorância do povo,
que na visão do autor seria a responsável pela escolha dos maus representantes.
Contrário a participação do povo nos processos políticos, o filósofo francês
pregava que os desmandos de um governo cabiam como uma punição àqueles que
tinham direito ao voto, mas não sabiam usá-lo.
Pois bem, não obstante todos os seus problemas, como bem
disse Winston Churchill , “a democracia é a pior de todas as formas de governo,
excetuando-se as demais”. Tá certo que esse mesmo cara também disse “eu
aproveitei mais o álcool do que ele se aproveitou de mim”, mas isso não é
motivo suficiente pra desmerecer todo o seu pensamento, não é verdade?
O fato é que a democracia, o tal do governo do povo, por
mais que pouquíssimas almas vivas tenham ciência disso, é um mecanismo que visa
evitar a concentração de poderes nas mãos de um ou alguns indivíduos,
justamente criando um caos político tal que crie uma perpétua instabilidade do
poder político, assim enfraquecendo cada um dos jogadores desse jogo, por meio
dos demais. Ou seja, jogam-se os pUderosos uns contra os outros, para que eles
próprios se enfraqueçam e, no fim, saiam ganhando com isso os indivíduos, que
ficarão um pouco menos fracos em relação a seus governantes e seus abusos,
assim acabando por se constituírem, também, em força política, fazendo parte do
jogo.
Entretanto, um outro vetor tem que ser levado em
consideração: O PODER ECONÔMICO. Este poder, caso não seja limitado por nossas
instituições democráticas, acaba por subjugar todos os jogadores enfraquecidos
dessa guerra chamada democracia. Principalmente o mais fraco de todos - o povo.
Assim, até aproveitando-se do caos político, da desejável instabilidade do
poder político, o poder econômico domina a política, a população, os países, a
democracia, o constitucionalismo, o direito, enfim, todas os mecanismos que
deveriam nos proteger de abusos.
E é o que temos visto diariamente nos jornais. O poder
econômico dominando nossa agenda política, decidindo nossas eleições,
conduzindo nossas políticas públicas, nossos deputados, nossos governantes, até
mesmo nossos juízes, e, por fim, nossas vidas.
Se o tal do “povo” (que ninguém sabe ao certo o quê ou
quem é) não está preparado para votar, por que então é obrigado a fazê-lo? Sem
educação, sem cultura, sem nem ao menos ter o mínimo de dignidade para viver,
como alguém pode estar preparado para decidir sobre o futuro de um país? Como
alguém pode parar pra pensar sobre o futuro, sem nem ao menos ter certeza do
presente? É claro que alguém que depende de sobreviver a cada dia sempre será
imediatista, irresponsável em relação ao futuro, em relação aos demais membros
da coletividade. Como diz o ditado popular, “se a farinha é pouca, meu pirão
primeiro”.
O fato é que, como podemos perceber, o “povo” não está
preparado para votar (e nunca esteve tão despreparado como nos últimos tempos),
e quem diz o contrário, desculpe-me, mas ou é hipócrita, ou alienado total. E
claro, quando digo isso, não estou chamando de povo uma classe social
específica, ou um grupo específico de pessoas. Na verdade, o “povo” é um ente
abstrato que representa todos nós. Eu sou o povo, você é o povo. O povo é uma
abstração jurídica que deve tomar as decisões, que deve exercer o poder
político de nosso Estado. Na medida em que o exercemos, em que exercemos nossa
cidadania, cumprimos com nosso papel de “povo”. Quando não, o “povo” fica
vazio.
E é o que está acontecendo. O “povo”, este ente abstrato,
está vazio. Esvaziado propositalmente por uma leva de políticos que,
aproveitando-se da tolerância política da democracia, da instabilidade
econômica por eles próprios gerada em decorrência do saqueamento do Estado por
irresponsabilidades, políticas populistas e despreparo mesmo, e da ingenuidade
de uma maioria que não tem acesso aos meios que propiciam o bom discernimento,
resolveu se aliar ao poder econômico (e especialmente a empresários corruptos)
para se perpetuar no poder.
e quem realmente decide as eleições é essa parte da
população desprovida de conhecimento, que não tem acesso a dados sérios, e
tampouco capacidade de interpretá-los, pois foram reduzidos a meros repetidores
de discursos simplistas elaborados por quem os mantém de propósito nesta
situação. E essa é a maioria esmagadora do eleitorado de nosso país, onde se
concentra, claro, os eleitores desta leva de políticos citada.
A verdade é que todos os candidatos, sejam do grupo que
forem, precisam e querem os votos desse eleitorado. Por isso ninguém tem
coragem de atacar tais governos recentes. Por isso todos seguem rezando a
cartilha da hipocrisia eleitoreira: prometer descaradamente medidas populistas
que sabem que não podem cumprir, que sabem ser absurdos infantis, mas que sabem
que são as palavras mágicas para conquistar o voto de um povo reduzido à
condição de indigente pedinte.
Como sempre afirmo: o único problema da Democracia é a
ignorância. E o único remédio para a ignorância é a educação.
Não existe outra saída. Ou preparamos nosso povo para a
democracia, ou sempre teremos esses governantes aí. Esses que, dizem, são os
que merecemos...
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