José Sarney
Estamos numa eleição atípica
Sem som e sem trio-elétricos nas ruas, sem muros
pintados, sem outdoors, sem camisetas, cartazes só dentro de casa e muitas
outras restrições. Também no rádio e na televisão os programas eleitorais foram
reduzidos a 35 dias, com uma limitação danada ao que falam os candidatos.
A coisa está de tal modo restrita que até artigos
assinados, com as ideias do autor — o que pensa, o que reflete, aquelas ideias
que deviam ser protegidas pelo princípio da liberdade de expressão e de opinião
(“é livre a manifestação do pensamento”, diz o inciso IV do artigo 5º da
Constituição) — são motivo para a Justiça Eleitoral ser acionada. Assim
judicializa-se completamente a política, de maneira que a Justiça, por sua vez,
fica seduzida a politizar-se.
O certo é que a nova lei não aprofunda a democracia nem
valoriza o debate, mas tutela as eleições. Será isto um bem ou um mal? Conheci
um fanhinho na feira da rua Bolívar, quando eu era deputado federal e morava
nessa rua do Rio, que chamava de Bal o mal.
A lei eleitoral é muito estranha e a única coisa que pesa
são as pesquisas, feitas de encomenda e, às vezes, por empresas constituídas
somente para efeito publicitário e de propaganda. Basta ver que, aqui no
Maranhão, o IBOPE, o maior e mais antigo instituto de pesquisa do Brasil,
referência internacional, foi impugnado no TRE, com um pedido para não divulgar
os seus resultados, porque uma outra pesquisa, de barriga de aluguel, dava
números astronômicos e divergentes.
Mais tarde se descobriu o porquê. Os números eram
astronômicos porque a estatística da pesquisa era feita por uma senhora que já
estava no céu: depois de um ano na UTI de um hospital, falecera.
Mas isso já não escandaliza ninguém. Depois desse negócio
de fake news a mentira passou a ser moeda corrente e é até elegante mentir,
pois se faz isso com nome estrangeiro e bonito. O Washington Post de hoje
publica um gráfico do receio das fake news, em que o Brasil aparece como
campeão do mundo, com 85% de preocupação: parece que eles têm visto os programas
do PC do B.
Vejo um programa de um candidato que tem as
responsabilidades de governar dizer que ele fez isso e mais aquilo, e tanto fez
que até o leão da Receita Federal se descobriu que são os dois leões do Palácio
dos Leões.
Já se sabe que foram eles, e não ele, que fizeram falir e
fechar as pequenas quitandas e lojas do Maranhão. Foram eles, os leões, que
comeram as motocicletas e os carros tomados dos pobres.
Mas as barrigas que encheram não foram as deles, pobres
barrigas de bronze.
Enfim, a luta que vemos é entre o bem e o Bal.
José Sarney
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