Dom Gil Antônio Moreira - Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora – MG
Há muitos anos a Igreja, seja pelos documentos papais,
seja pelos pronunciamentos das Conferências Episcopais, tem procurado ser
isenta nas opções político-partidárias, não indicando candidatos e não
privilegiando partidos. Ela, contudo, indica princípios e critérios a partir
dos Santos Evangelhos, resumidos na sua doutrina social, na moral familiar e
nos seus códigos de ética construídos ao longo da história à luz dos
ensinamentos de Cristo. A partir do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965),
ela tem reforçado estes propósitos.
O critério de pronunciar-se, em máximas vezes, por meio
de documentos aprovados em assembleias, sínodos ou concílios tem se revelado
ideal, pois os textos são julgados pelos presentes com direito a críticas,
modificações e eliminação de termos dúbios. Esse método é aplicado na CNBB com
muita responsabilidade e precisão. Posso afirmar, que, em toda a minha vida,
não encontrei, no Brasil, nenhum outro grupo que tenha mais espírito democrático,
mais liberdade na votação de textos que a CNBB.
Porém, vez por outra, surgem problemas. Bispos são também
humanos. Alguns são mais acalorados sobre determinados pontos de vista e outros
são, às vezes, extremamente acomodados porque não querem polêmicas.
Não nos assustemos se, em épocas de campanha, apareçam um
bispo ou outro, um padre ou um diácono que se deixem levar pela paixão e
facilitem espaços nas igrejas, ou mesmo nos prédios oficiais da CNBB, para
candidatos que lhe pareçam mais indicados. São exorbitâncias. Há, embora poucos
que, dominados pela ânsia dos votos, até chegam a sublevar o valor da Sagrada
Comunhão e dos púlpitos, como se a sua escolha e sua opinião fossem verdade
suprema, acima da Bíblia, da Sagrada Doutrina e até do direito democrático de
pensar diferente deles. Os que lhes opõem, às vezes, são tratados por eles como
réprobos, reacionários, alienados e outros depreciativos. Pior ainda quando
fazem do altar verdadeiros palanques eleitoreiros, sem se importar com a noção
de sacrilégio. Não tomemos esses irmãos ideologizados por representantes da
Igreja. Não são. Mas não guardemos ressentimentos contra eles. Continuam nossos
irmãos, pois nossa fé e nosso amor a Deus são muito superiores a estas
situações e nossa fraternidade é muito mais preciosa que a política.
Esses comportamentos acontecem também no campo
protestante e em igrejas evangélicas de coloração pentecostal, chegando a
sacralizar de tal maneira alguns candidatos que parecem estar convencidos que
Jesus é também eleitor de sua urna. As emoções em época de política ficam à
flor da pele e, para muitos, de forma imatura e perigosa.
Quanto à CNBB, o único documento oficial sobre eleições
2018 é a Mensagem da 56º Assembleia Geral, de 17 de abril passado, que afirma,
entre tantos outros princípios que é fundamental conhecer e avaliar as
propostas e a vida dos candidatos, procurando identificar com clareza os
interesses subjacentes a cada candidatura. A campanha eleitoral torna-se,
assim, oportunidade para os candidatos revelarem seu pensamento sobre o Brasil que
queremos construir. No Regional Leste 2
(MG e ES) há Mensagem dos Bispos, publicada a 5 de junho de 2018, na Assembleia
Regional, onde se pode ler: Não queremos e não vamos nos sobrepor às
consciências, indicando em quem votar, mas nos comprometemos em oferecer
elementos e subsídios para o necessário discernimento neste contexto eleitoral.
O Evangelho, fonte inspiradora da Doutrina Social da Igreja, é o critério a
partir do qual queremos pensar a política e os políticos. Daí pensaremos o
Brasil e queremos construí-lo a partir do Projeto de Deus.
No discernimento, o melhor é não ser ingênuo e pensar que
seu candidato seja perfeito e seu partido seja detentor da verdade suprema.
Todo candidato tem algo bom e algo ruim. Em todo partido há coisas positivas e
coisas negativas. É preciso examinar qual opção é a mais indicada para o País e
para o Estado neste momento da história. Quanto aos programas dos partidos, é
necessário verificar se não há incompatibilidade com suas convicções
religiosas. Um dos aspectos nesta análise, observemos que tratamento a pessoa
humana, sobretudo os mais pobres, os desempregados, os sofredores, as crianças
terão. Na análise da personalidade do candidato, verifiquemos se ele tem
costume de mentir para ganhar eleições, se usa de meios desonestos, de recursos
enganadores. Sua vivência religiosa também deve ser examinada, verificando se é
autêntica, ou se comporta de um jeito no dia a dia e na época das eleições muda
seus hábitos. Ele está disposto a defender a vida contra leis abortistas e a
proteger a família na educação moral e religiosa dos filhos?
A questão da violência é ponto central. Que métodos
seriam mais indicados para combater a violência, de forma tal que inibam o
crescimento do mal e ao mesmo tempo respeitem a dignidade da pessoa humana? Que
proposta ele tem para os graves problemas da saúde? Certamente, além desses,
outros pontos devem ser analisados.
Que Deus nos ilumine, que Nossa Senhora Aparecida
interceda por nós, neste momento tão importante de nossa Pátria.
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