Leio o Estadão e vejo a encrenca:
Mourão expõe embate entre militares e Onyx
Vera Rosa, Tânia Monteiro e Leonardo Augusto, ESPECIAL PARA O ESTADO
As divergências na equipe de transição do governo Jair
Bolsonaro ficaram mais evidentes nesta quarta-feira, 5, quando o general
Hamilton Mourão, vice-presidente eleito, expôs o embate entre o grupo de
militares da nova administração e o futuro ministro da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni (DEM-RS). Nos bastidores, há uma disputa pelo comando da coordenação
de governo e reclamações sobre a forma como Onyx tem buscado protagonismo.
Em Belo Horizonte, onde esteve para participar de um
encontro com empresários, Mourão disse que, se forem encontradas
irregularidades na investigação aberta contra Onyx, ele terá de deixar o
governo.
Relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o
ministro Edson Fachin atendeu a pedido da Procuradoria-Geral da República e
determinou a abertura de petição autônoma (fase anterior ao inquérito) para
apurar denúncias de pagamentos de caixa 2 da J&F ao deputado Onyx nas
campanhas de 2012 e 2014. “Uma vez que seja comprovado que houve ilicitude, é
óbvio que terá que se retirar do governo. Mas, por enquanto, é uma
investigação”, afirmou Mourão.
As declarações do general esquentaram ainda mais o clima
com Onyx, que nega as acusações e chegou a dizer que a investigação era uma
“bênção” para que o caso fosse esclarecido.
Em Brasília, questionado sobre as afirmações de Mourão,
Bolsonaro titubeou antes de responder. “Em havendo qualquer comprovação de uma
denúncia robusta, contra quem quer que esteja no governo, ao alcance da minha
caneta BIC, ela será usada”, disse o presidente eleito.
Na prática, há uma avaliação do núcleo militar – hoje com
sete integrantes indicados para o primeiro escalão – de que será impossível
Onyx conduzir negociações com o Congresso e ainda acumular a coordenação da
equipe ministerial. Essa constatação se baseia no fato de as duas tarefas
exigirem muito trabalho e dedicação para ficarem sob a responsabilidade de um
só ministro.
A ideia da criação de um centro de monitoramento do
governo, que seria chefiado por Mourão, foi deixada de lado. Ninguém, no
entanto, arrisca um palpite sobre quanto tempo durará a decisão, já que os
anúncios dos últimos dias sobre a configuração da Esplanada foram marcados por
idas e vindas.
O novo embate no núcleo da transição é para que o
controle das ações administrativas fique com a Secretaria de Governo, nas mãos
do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, designado para fazer a interlocução
com Estados e municípios, além de cuidar do Programa de Parcerias de
Investimentos (PPI). Nesta semana, porém, o próprio Onyx assegurou que a
coordenação de governo permaneceria na Casa Civil.
Mourão afirmou nesta quarta-feira que ao menos parte da
articulação política do Palácio do Planalto poderá ficar sob comando dos
militares. O vice disse que ele mesmo poderá participar, assim como Santos
Cruz, e repetiu que será “o escudo e a espada” de Bolsonaro. “O escudo defende
e a espada ataca antes de ele ser atacado”, comparou.
Problemas. O desgaste de Onyx também é sentido no
Congresso, onde, a portas fechadas, dirigentes de vários partidos dizem que o
futuro chefe da Casa Civil não tem jogo de cintura política. Insatisfeitos,
integrantes de siglas como PP, PTB, Solidariedade, PRB, PSDB, PSB e até o DEM
agem para formar um bloco que dê as cartas do poder na Câmara, a partir de
2019, isolando o PSL de Bolsonaro. O grupo defende a recondução de Rodrigo Maia
à presidência da Casa.
O modelo de articulação política previsto por Onyx terá a
colaboração de políticos que não se elegeram neste ano. Já foram convidados
para a tarefa o candidato derrotado ao governo do Espírito Santo Carlos Manato
(PSL) e os deputados não reeleitos Leonardo Quintão (MDB-MG), Danilo Forte
(PSDB-CE), Walter Ihoshi (PSD-SP), Milton Monti (PR-SP) e Marcelo Delaroli
(PR-RJ). Após encontro com Bolsonaro, ontem, a bancada do PR anunciou que
integrará oficialmente a base do futuro governo.
A escolha de Danilo Forte para fazer a “ponte” com o
Nordeste, por exemplo, já provoca críticas. Políticos de Pernambuco se queixam
da falta de nomes do Estado na equipe. O fato de Bolsonaro não ter chamado o
deputado Mendonça Filho (DEM-PE) para nenhum cargo também causou contrariedade
em políticos pernambucanos e é atribuído a uma rusga que Onyx teria com ele.
Mendonça Filho foi ministro da Educação no governo de Michel Temer, concorreu
ao Senado, mas não se elegeu. Ontem à noite, porém, o ex-governador do Estado
Joaquim Francisco (PSDB) foi convidado para fazer parte da equipe de transição.

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