Os bispos do Brasil garantem, no Diretório Nacional de
Catequese, que as pessoas com deficiência têm o mesmo direito à catequese, à
vida comunitária e sacramental que o restante da comunidade. As pistas de ação
deste documento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), bem como
as indicações do Documento 107, “Iniciação à vida cristã: itinerário para
formar discípulos missionários”, fundamentam iniciativas promovidas Brasil
afora para uma catequese inclusiva.
Em Cascavel (PR), uma equipe de cerca de 10 pessoas está
envolvida em um projeto arquidiocesano de Catequese Inclusiva, entendida como
“o direito de toda pessoa com deficiência na participação da vida da Igreja e o
dever da comunidade eclesial de envolver estes irmãos como sujeitos no processo
de transmissão da fé”, explica Angelita da Cunha, que faz parte desta equipe de
catequese inclusiva arquidiocesana. Ela ressalta o compromisso coletivo com
envolvimento do clero, de catequistas, catequizandos, familiares e comunidade.
“A partir de uma profunda vivência espiritual da Palavra
de Deus, fruto de sua oração e reflexão pessoal diária, e acrescida de todo o
conhecimento sistematizado, o catequista estará apto a levar a catequese
inclusiva para aqueles que até o momento estiveram ou estão à margem da
catequese. A formação continuada e permanente dará suporte ao catequista,
fortalecendo-o diante dos muitos desafios inerentes ao seu trabalho na sua
paróquia”, comenta Angelita, reforçando o trabalho de formação para os
catequistas em vista da atuação inclusiva.
A ação em Cascavel está em sintonia com a preocupação do
regional Sul 2 da CNBB com a formação dos catequistas que atuam junto à pessoa
com deficiência. Desde 2015 realiza-se, anualmente, um encontro formativo que
conta com a participação de catequistas das mais diversas áreas e também alguns
com deficiência, em sua maioria com deficiência auditiva.
A coordenadora regional da Animação Bíblico Catequética,
Débora Regina Pupo, conta que os encontros no Paraná abordam temáticas como
legislação, psicologia (conhecimento das várias deficiências), práticas
catequéticas, desenvolvimento e partilha de materiais adaptados.
“Em 2017 iniciou-se uma experiência diferente: incluir um
grupo de catequistas da catequese inclusiva na escola do regional. Esses
catequistas foram indicados pelas dioceses para o início de um trabalho de
organização da catequese inclusiva onde a mesma ainda não está organizada ou
precisa ser fortalecida”, explica.
Neste ano, recorda, Débora, os catequistas pediram ajudam
mais específica do regional na formação de catequistas, na organização da
catequese inclusiva nas dioceses e com diretrizes para o trabalho. “Para 2019,
temos previsto um novo encontro com os catequistas para traçar um plano de ação
nos próximos anos”, revela.
Na arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ), há um serviço de
“catequese especial” há cerca de 40 anos. Dentro do processo de iniciação
cristã, é coordenado por Rosali Villa Real e Fátima Lopes Martins. Elas são
responsáveis por 35 núcleos já instalados em paróquias da arquidiocese e pelo
curso de capacitação, que acontece em dois períodos de três meses a cada ano. A
Catequese Especial atende pessoas com deficiência cognitiva, com síndromes com
comprometimento cognitivo e com transtornos mentais. Também está estruturada a
Pastoral para Pessoas com Deficiência (PASPED) com outros trabalhos de
evangelização neste campo. Há ainda uma colaboração da catequese especial com o
Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines).
“A catequese especial existe para preparar os
catequizandos para acompanhar este movimento se for o caso de inclusão”,
explica Rosali. Ela chama atenção para o fato de que há muita gente que acha
que a catequese especial se prepara como um “gueto”, no qual se separa as
crianças e adolescentes com deficiência dos demais, mas não é bem assim. Para a
coordenadora, é possível uma inclusão realmente verdadeira.
Para isso, deve ter uma preparação tanto da comunidade
paroquial – “para receber, enxergar, acreditar, aceitar” – quanto do
catequizando. “Temos caso de pessoas que mudam de banco quando percebem que tem
um ‘especial’ do lado”, lamenta Rosali.
Este é um entre os vários desafios. Rosali conta que para
muitos não é possível acompanhar a metodologia da catequese regular; em turmas
com muitas crianças, sendo duas com algum tipo de deficiência, o catequista
pode ter dificuldades de desempenhar o trabalho de forma satisfatória. Outro
ponto é o “tempo de concentração”, que para as pessoas com deficiência é muito
menor que na catequese regular.
Um dos desafios pode ter se tornado potencialidade no
trabalho de catequese especial no Rio de Janeiro. Neste ano, o grupo conseguiu
incluir na formação dos padres uma intervenção em relação à catequese especial.
“Agora, é feita uma demonstração da catequese especial nos seminários. Nós
temos um grande desafio de mostrar aos nossos sacerdotes a importância da
catequese especial, espaços físicos acessíveis, salas reservadas”, enumera
Rosali.
Iniciativa interessante foi realizada pela irmã Lúcia
Imaculada, das Irmãs de Belém: “Ela dividiu os seminaristas que ela acompanha
em grupos de 10 e fez com que eles visitassem as pastorais e todos os grupos
visitaram a catequese especial, foi muito interessante, muito proveitoso”,
comemora Rosali Vila Real.
Caminhos apontados pelos bispos
A Igreja reconhece em documentos catequéticos a
necessidade de dar a devida atenção às pessoas com deficiências e fazer
esforços para superar todo tipo de discriminação. Também é lembrada a presença
destas pessoas nas comunidades, onde há os que se sentem chamados a trabalhar
junto àqueles com deficiência, que também estão envolvidas nas atividades da
catequese ou de pastorais.
Já em 2005, quando foi aprovado o Diretório Nacional de
Catequese, os bispos já percebiam o aumento do número de voluntários neste
trabalho inclusivo, além da organização e da presença de organismos e
movimentos representativos. Os bispos, naquela ocasião, buscaram a superação de
ideias preconceituosas e de atitudes que dificultam o protagonismo social e
eclesial. Também apontaram para a importância da família como parte fundamental
na primeira experiência de comunidade das pessoas com deficiência.
“Esta catequese supõe uma preparação específica dos
catequistas, pois cada necessidade diferente exige uma pedagogia adequada”,
afirmaram os bispos reunidos na 43ª Assembleia Geral da CNBB. Uma indicação foi
para contar com o apoio de profissionais, como médicos, fonoaudiólogos,
professores, fisioterapeutas, psicólogos e intérpretes em língua de sinais “sem
que se perca o objetivo da catequese”.
Mais recentemente, com novo impulso a uma catequese
catecumenal, o episcopado brasileiro aprovou o Documento 107 da CNBB, que
também propõe um caminho de acolhida à pessoa com deficiência, por meio da
escuta e da compreensão de sua realidade. O texto orienta que não deve ocorrer
a formação de grupos apenas com pessoas com deficiência, “pois o melhor para
elas e para a comunidades é estarem incluídas nos grupos existentes”.
A comunidade paroquial também deve estar preparada neste
processo, de acordo com o documento da CNBB, considerando questões referentes
“a acessibilidade atitudinal, comunicacional, arquitetônica, à locomoção, à
adaptação do mobiliário” a fim de garantir o bem-estar de todos, especialmente
das pessoas com deficiência.
As indicações dos bispos motivaram a fonoaudióloga
Francielly Guimarães de Oliveira Lippel a se aprofundar na temática da catequese
inclusiva. Com 14 anos de experiência, atendendo pessoas com deficiência
auditiva em suas diversas classificações, a profissional buscou se especializar
em uma pós-graduação em Iniciação a vida cristã, pela Faculdade Católica de
Santa Catarina (Facasc). Seu trabalho na catequese e o Documento 107 da CNBB a
incentivara a mostrar um olhar diferenciado para as pessoas com deficiência.
Assim, ela propôs como título de seu trabalho de conclusão de curso “Catequese
inclusiva a serviço da Iniciação à Vida Cristã: um novo olhar para as pessoas
com deficiência auditiva”.
“É necessário acolhermos todas as pessoas em suas
diversidades e suas deficiências. Para isso é necessário estudo, dedicação por
parte do clero e de toda comunidade que estará à frente deste projeto. É
necessário entender a forma de comunicação, para que se possa anunciar o Cristo
Jesus que a IVC propõe”, comenta.
Francielly é catequista há 20 anos e tem percebido a
necessidade de acolhida: “Em diversas situações as crianças e ou jovens com
algum tipo de deficiência foram a mim destinados. Sempre é necessário encontrar
a forma como se comunicar com essas pessoas para que a evangelização, o
querigma, seja anunciado de forma mística”.
E este tem sido um dos trabalhos de inúmeros catequistas
Brasil afora: encontrar métodos para o anúncio às pessoas com deficiência.
Em Cascavel, Angelita Cunha aplica atividades que
convidam seus catequizandos a manusear materiais confeccionados por ela e a
interagir com outros catequizandos sem deficiência. “A catequese acontece de
uma maneira tranquila e de fácil compreensão para todos os com deficiência e os
sem deficiência. O segredo é amor e acolhimento, o resto acontece
naturalmente”, conta.
Como frutos, ela partilha a conclusão da preparação para
o Crisma de uma jovem com paralisia cerebral. Outros quatro catequizandos fizeram
a Primeira Eucaristia: dois com TDAH, um com paralisia cerebral e outro
autista.
No Rio de Janeiro, também são vários relatos e imagens
que registram o ápice do trabalho com crianças e jovens que podem participar
dos sacramentos, principalmente a Eucaristia e a Unção do Crisma.

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