Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano
de Belo Horizonte - MG
Impacta sempre, e muito, a fugacidade do tempo. Nada tem
força para deter a voracidade do tempo, que passa inexoravelmente. Só o
horizonte da eternidade, para aqueles que têm a fé no Filho de Deus - Salvador
e Redentor da humanidade - consola e é certeza da vitória definitiva sobre a
fugacidade do tempo. As abordagens filosóficas e antropológicas sobre o tempo
carregam riquezas preciosas, lições que, aprendidas, qualificam o existencial
humano e dá ao tempo que passa sentido consistente. Desenham o horizonte de uma
vida marcada para o desabrochamento que a eterniza
Buscar uma qualificada razão para viver é dinâmica
intrínseca da condição humana, com incidência não apenas no cotidiano de
indivíduos, mas em toda a sociedade. Neste momento em que se completam duas
décadas deste terceiro milênio, exercício indispensável é uma avaliação pessoal
capaz de identificar quais mudanças são necessárias à própria vida. Com os
instantes que transcorrem, marcados por incontáveis e impactantes avanços
tecnológicos, torna-se urgente conceber equivalentes progressos humanísticos e
espirituais, tão necessários a este tempo.
A realidade se sobrepõe a qualquer argumento ao
demonstrar que os importantes avanços tecnológicos e cibernéticos são
insuficientes para garantir qualidade de vida a todos. A base para a evolução
da humanidade alicerça-se em pilares humanísticos e espirituais, que devem
fazer frente a diferentes ideologias - linhas de pensamento que deterioram
valores éticos e morais, resultando em graves prejuízos para todos. A perda desses
valores gera intolerância, permissividade, desrespeito e desfiguração de
identidades - de indivíduos e instituições – produzindo diferentes formas de
violência.
É preciso buscar o que está faltando para reverter as
dinâmicas que deterioram a vida humana, pois as duas primeiras décadas deste
terceiro milênio ainda não ofereceram sinais de melhoras dos males que marcaram
o século XX. Os processos educativos formais, até mesmo nos grandes centros
acadêmicos e científicos, não estão dando conta de promover ampla qualificação
humanística, com incidências transformadoras na realidade. Há, pois, nesse
campo, insubstituível meta, que deve ser assumida por todos: promover e
reconhecer a preciosidade da vida humana, razão pela qual o Verbo de Deus se
fez carne e veio morar entre nós, para salvar a humanidade.
Todos têm responsabilidade nessa missão de promover os
princípios éticos e morais. De modo especial, é tarefa dos cristãos superar
disputas entre si, com ou sem razões confessionais, no sentido de oferecer ao
mundo uma fonte inesgotável de valores humanísticos: a Palavra de Deus, que tem
força para combater o relativismo defendido por ideologias, com a troca de
certos princípios por uma liberdade ilusória. Ouvir e acolher o Evangelho
produz frutos e qualifica a interioridade humana. Buscá-lo é atitude essencial
para fazer da terceira década deste milênio bem mais do que simplesmente um
tempo promissor.
Na escuta do Evangelho, vale dedicar-se de modo especial
ao Sermão da Montanha, com a sua força transformadora. Quem busca essa Palavra
coloca-se diante de Deus, em atitude de escuta que faz reverberar o sentido de
fraternidade solidária, a partir da consciência de que todos são filhos de
Deus. Ouvir a Palavra causa impacto, é uma experiência que permite aprender
misticamente a imprescindível lição que vem do coração de Deus. “Ouvistes o que
foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo:
amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. O cristão tem, pois,
uma grande contribuição a oferecer nesta corrida contra o tempo: partilhar os
valores do Evangelho neste terceiro milênio.

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