Os bispos do Xingu dom Frei João Muniz Alves e dom Erwin
Kräutler (ex-presidente do Cimi), em carta pública, chamam a atenção da
sociedade nacional para o que vem ocorrendo na Volta Grande do Xingu além de
outras 45 barragens que correm o risco de romper, conforme mostra o Relatório
da Agência Nacional de Águas (ANA).
Os bispos apontam que depois da Usina Hidrelétrica Belo
Monte ter sido construída, com efeitos negativos para as populações
tradicionais e moradores de cidades como Altamira, a empresa canadense Belo Sun
pretende explorar as minas de ouro na Volta Grande do Xingu. “Se o projeto
chegar a concretizar-se, ameaçará de modo dramático os sítios arqueológicos e
afetará sensivelmente o ecossistema da região”. A Belo Sun vai explorar áreas
às margens do rio Xingu, a apenas 14 km da barragem de Belo Monte. Os
movimentos populares de Altamira (PA) realizaram, no dia 31 de janeiro, uma
roda de conversa chamada “Da lama à luta: de Brumadinho à Volta Grande do
Xingu”. Um documento foi divulgado ao término da atividade.
Além das montanhas de lixo, dos túneis e devastação de
áreas de mata para a exploração de ouro, Belo Sun vai construir mais uma
barragem de rejeitos na Volta Grande do Xingu, um paredão com 44 m de altura,
maior que a barragem de Mariana. Segundo os documentos da própria empresa, um
possível rompimento da barragem teria consequências catastróficas. “A cada dia
que passa os meios de comunicação nos assustam com nova contagem de corpos
achados na lama e anunciam o número de desaparecidos. Estamos horrorizados com
a catástrofe que ceifou a vida de tantas pessoas”, diz trecho da carta.
O projeto tem deixado a população e organizações ambientais
e de Direitos Humanos em constante alerta. “Apreensivos e temerosos diante dos
enormes riscos que esse empreendimento significa para o ser humano e o meio
ambiente. Sabemos, no entanto, que as consequências de um desastre serão
irreversíveis e jamais haverá recuperação das águas e das áreas atingidas no
Xingu”, destaca a carta.
Confira o conteúdo do documento na íntegra:
PRELAZIA DO XINGU
“Quando virdes a abominação desoladora instalada
Onde não deve … fujam para os montes” (Mc 13,14)
A catástrofe de Brumadinho
A cada dia que passa os meios de comunicação nos assustam
com nova contagem de corpos achados na lama e anunciam o número de
desaparecidos. Estamos sempre mais horrorizados com uma catástrofe que ceifou a
vida de tantas pessoas. Ficamos de coração partido pensando nas famílias
inconsoláveis pela perda de um ente querido. Partilhamos a sua dor e saudade
rezando pelos falecidos e suplicando ao Nosso Bom Deus que conforte com seu
amor e ternura os familiares, parentes e amigos aflitos.
Não hesitamos, porém, de denunciar a negligência e omissão
dos responsáveis por esse crime e insistir que sejam apuradas as verdadeiras
causas do rompimento da barragem. Os desastres de Mariana, Barcarena e de
outros lugares ficaram até hoje sem explicação convincente e manifestam a face
cruel e desumana da mineração no Brasil.
Na Prelazia do Xingu, depois de Belo Monte com seus efeitos
tão negativos para os ribeirinhos e indígenas, chega uma empresa canadense que
pretende explorar as minas de ouro na Volta Grande do Xingu. Se o projeto
chegar a concretizar-se ameaçará de modo dramático os sítios arqueológicos e
afetará sensivelmente o ecossistema da região.
Estamos muito apreensivos e temerosos diante dos enormes
riscos que esse empreendimento significa para o ser humano e o meio ambiente.
Quem realmente pode garantir que as instalações previstas tenham a segurança
apregoada? Sabemos, no entanto, que as consequências de um desastre serão
irreversíveis e jamais haverá recuperação das águas e das áreas atingidas no
Xingu.
Apelamos aos Governos Federal e Estadual para que se
abstenham de conceder licenciamento a uma empresa estrangeira que quer levar o
ouro do Brasil deixando atrás de si uma paisagem lunática envenenada.
Altamira-PA, 10 de fevereiro de 2019
Dom João Muniz Alves, ofm
Bispo do Xingu
Dom Erwin Kräutler, cpps
Bispo do Xingu
Com informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
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