sábado, 8 de maio de 2021

ALÉM DA PONTE

Linda Barros escreve importante texto sobre a articulação discursiva ligada à arte e cultura do Maranhão

"O Maranhão, de norte a sul, é cheio de riquezas naturais e intelectuais em todas as suas ramificações".


Por: Mhario Lincoln

Fonte: Linda Barros

ALÉM DA PONTE

Linda Barros, professora e atriz


            É de salutar a importância quando a riqueza cultural e intelectual de um povo é o tempo todo alimentada, ou seja, é de suma importância que conheçamos nossas riquezas, sejam elas patrimoniais, culturais e intelectuais, pois nós existimos e crescemos a partir delas. No entanto, para que elas possam existir, é de fundamental importância que as “alimentemos”. A cada dia novas gerações estão por vir e essa nova linhagem chega e já passa para si valores já existentes em nossa sociedade. No entanto, faz-se necessárias algumas perguntas: como se deve ter crescimento intelectual, cultural e patrimonial se não valorizamos o que é nosso? Como enxertar mais valores locais, se não bebemos de nossas próprias fontes? Como devemos pertencer a um mesmo nicho intelectual se não abrimos as portas para que nossas próprias riquezas locais possam entrar em nossos “lares”, em nossos “bares”, em nossos “lugares”? 

          Todos procuramos crescer, seja intelectual ou profissionalmente, tentamos a todo custo que nossos holofotes sejam acesos e cada vez mais nos pronunciemos, ou nos mostremos, seja com a voz, seja com o corpo ou com a palavra. Sendo assim, de uma forma ou de outra, nossa história é mostrada ou contada. É certo que todos, indistintamente, querem é serem vistos, comentados, lidos, escutados, criticados (bem ou mal), ser notados, pois uma sociedade, holisticamente falando, não existe por si só, pois não é visível aquilo que não notado. 

          O Maranhão, de norte a sul, é cheio de riquezas naturais e intelectuais em todas as suas ramificações. O Maranhão, mais especificamente São Luís, não é só “o lugar onde se fala o melhor português do Brasil”, premissa que é só um mito, e então já foi por água abaixo. O Maranhão também não é só “a terra de Sarney” como escutamos por aí. O Maranhão é terra não só do grande intelectual autor de Saraminda, de O Dono Mar e de Norte das Águas, mas também berço dos grandes nomes que compõem o quadro da cultura nacional. É terra dos irmãos Azevedo (Aluísio e Artur), é terra de Ferreira Gullar, é terra das “palmeiras onde canta o sabiá” de Gonçalves Dias, nosso maior nome da poesia Indianista brasileira.

Maranhão é terra da Juçara (e não açaí), é terra do Bumba Boi, Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título concedido pela UNESCO em 2019. Tem como capital São Luís, a única e verdadeira cidade dos azulejos (embora tenha sido esquecida em recente pesquisa divulgada nas redes sociais). São Luís é a capital do reggae, é a cidade fundada por franceses, é a cidade que também tem suas riquezas culturais e literárias esquecidas, desvalorizadas, perdidas no tempo, nos becos, nas ruas do Centro Histórico, nas pedras de cantarias. Seguramente caminhando pelas estreitas ruas do Reviver, já esbarramos ombro a ombro com algum artista local e de ímpeto, nos viramos e soltamos um sonoro “desculpe”, ou na grande maioria das vezes, nem isso, pois aquela mesma riqueza local, de enorme talento passa invisível aos olhos de não quer ver. 

  Em nosso Estado, ou nossa cidade, um dos caminhos para o reconhecimento intelectual tem nome e sobrenome: chama-se Ponte Marcelino Machado, popularmente conhecida como Estreito dos Mosquitos, um conjunto de pontes paralelas ligando à Ilha de Upaon-Açu (nome que era conhecida a ilha de São Luís em tempos remotos da nossa história) ao resto do continente. A ponte foi inaugurada em 1970 e possui 456 metros de extensão. É por essa mesma ponte que já passaram milhares de pessoas carregando seus inúmeros sonhos em suas bagagens. São Luís é uma ilha, ou seja, está fora do continente, é separada do resto do mundo por essa estreita passagem denominada popularmente de Estreito, mas que metaforicamente se alargou para muitos que por lá passaram. Seja por terra, pelo mar, pelo espaço aéreo, todos tinham em comum um sonho: o reconhecimento, a valorização.

E desse nosso Maranhão já saíram riquezas incalculáveis. A primeira delas a ser mostrada aqui é a intrépida Alcione Dias Nazareth, a nossa “Marrom”. Cantora, compositora e multi-instrumentista brasileira, a sambista é dona de uma das vozes mais potentes e inconfundíveis da Música Popular Brasileira. Por ser uma das mais notórias sambistas deste país, a cantora recebeu as alcunhas de Rainha do Samba e Rainha do Brasil. Com trinta álbuns de estúdio e nove ao vivo, vendeu a marca de 8 milhões de cópias de discos pelo mundo. A Marrom é dona de dezenas sucessos de crítica e de público.

Outro nome de grande destaque no cenário nacional é Cláudio Fontana, cantor e compositor brasileiro, nascido em nossa Ilha do Amor na década de 40. Cláudio foi mais uma riqueza que se mudou para o sudeste, levando na bagagem uma história de vida. Entre suas canções mais conhecidas, está o enorme sucesso dos anos 60, “Adeus, ingrata”. É de sua autoria um clássico da Música Popular Brasileira “O Homem de Nazaré”, cantado na voz do inesquecível Antônio Marcos. Claudio Fontana foi líder do Grupo Chocolate, junto com sua esposa e os dois filhos, fazendo muito sucesso no Brasil e no exterior.

E seguindo o percurso dos astros que decidiram alçar voos e pousar em outras terras, temos um dos nomes mais requisitados no mundo da música, temos aquele que leva o nome do santo padroeiro do Maranhão no nome, José Ribamar Coelho Santos, o nosso Zeca Baleiro. Cantor, compositor e músico, Zeca é um artista genial. Várias foram as canções compostas por ele e interpretadas por grandes nomes como Simone, Gal Costa, Elba Ramalho, entre outros. Maranhense de Arari, cidade conhecida como a terra da melancia, Zeca é também cronista, lançou em 2011 o livro de crônicas Bala na agulha.

Nesse caminho do invisível, todos querem chegar a algum lugar, serem vistos, reconhecidos e lembrados. Entre tantas estrelas que hoje alcançaram um patamar mais elevado e ultrapassaram o pesado concreto da ponte\estreito, temos Deolindo Rodrigues Garcês, o nosso Deo Garcês, um dos grandes nomes das telenovelas brasileiras, entre elas A Escrava Isaura, Chica da Silva, Prova de Amor, Carrossel. No palco, Deo Garcês deu vida a Luiz Gama, uma voz pela liberdade. Deo é Licenciado em Artes Cênicas e também bacharel em Teatro.

Outro nome que também ficou conhecido nacionalmente e que brilhou no cinema com o longa O Último Cine Drive-in foi Breno Nina. Por esse filme, Breno, o ‘Kikito’, ganhou o prêmio de melhor ator no 43° Festival de Gramado. O ator também teve participações nas novelas “Éramos Seis” e “Cheia de Charme”, ambas da Rede Globo. Outro maranhense que ganhou destaque e prestígio na platinada emissora global foi Rômulo Estrela, que atuou nas novelas “Novo Mundo”, “Além do Tempo”, “Deus Salve o Rei”, entre outros trabalhos. Esses são só alguns jovens atores que acreditaram no sonho e buscaram um lugar ao sol e que também tiveram a coragem e a audácia de ultrapassar os céus maranhenses para mostrar ao grande público do que são capazes, mesmo que, infelizmente, tenham optado por sair de seu Estado de origem.

E a lista segue, não só na música ou na TV e cinema. Temos nomes de grande respaldo na Literatura, autores com uma carreira intelectual invejável. É o caso do jornalista, cronista e poeta Mhario Lincoln, que há alguns anos resolveu sair de sua terra natal para trilhar outros caminhos. O presidente da Academia Poética Brasileira é hoje um nome muito respeitado pela sociedade intelectual devido a sua vasta produção literária, tendo estreado com INA - A Violação do Sagrado, prosseguindo com O Paço da Liberdade, Maria Celeste e o Amor Divino, Mhario Lincoln em preto e branco, A Morte de Mariquinhas, entre tantas outras importantes obras. Atualmente vivendo em Curitiba-PR, o autor de A Bula dos Sete Pecados coordena um dos maiores veículos de publicação virtual do país, a plataforma Facetubes.  Com esse currículo, Mhario conseguiu prestígio, respeito e valorização por suas obras, no entanto estando longe de sua terra natal.

Outro gigante na literatura maranhense é José Salgado Maranhão, ou tão somente Salgado Maranhão. Natural de Caxias, aos 20 anos mudou-se para o Rio de Janeiro. O poeta é autor de inúmeras obras, entre elas Mural de Ventos, obra que lhe rendeu o Prêmio Jabuti em 1999, uma das maiores honrarias literárias do Brasil. É de sua autoria, também, Ópera de Nãos, A Cor da Palavra, O Beijo da Fera, Solo de Gaveta, entre tantas outras. As obras desse autor já foram traduzidas para inglês, alemão, italiano, francês e sueco. Como compositor, teve as canções gravadas por Amelinha, Elba Ramalho, Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Zizi Possi e vários outros.

Aqui no Maranhão, mais especificamente em São Luís, se você for a algumas livrarias e perguntar sobre um desses autores (Mhario Lincoln e Salgado Maranhão), ouvirá um sonoro “não sei quem é”. Salgado Maranhão, dá palestras pelo mundo inteiro, já recebeu cerca de 50 convites de Universidades americanas. E como bem disse o poeta: “Nos EUA, um livro de poemas pode valer uma monografia. Aqui, você faz um curso de Letras e não sai poeta”.

Sobre a estreita ponte que nos une ao resto do mundo, muitos são os sonhos carregados nos ombros, pesados como chumbo ou concreto, por ali. Os caminhos são tortuosos, mas com muita garra e vontade de vencer é possível desviar-se dos obstáculos. Foi o que fez Phapullo Rodrigues da Silva, hoje Pabllo Vittar, cantor e um dos drag queen mais famoso do nosso país. Pabllo conta que “desde pequeno que a minha vontade foi cantar e que a música fez parte da minha vida. É muito lindo porque valida a minha mensagem. Quero que a minha voz chegue a sítios distantes. Sempre acreditei em mim mesma e sempre quis ser artista.” E hoje o é, mas teve que passar por muitas dificuldades até chegar ao auge de sua tão sonhada carreira. Pabllo Vittar se mudou aos 16 anos para São Paulo, com esse sonho pesado na bagagem. Trabalhou em salões de beleza, restaurantes, operador de telemarketing, até conseguir dar os primeiros passos na música, que sempre foi seu sonho. Em 2015 lançou sua primeira música Open Bar, no ao seguinte ficou famoso ao aparecer cantando no programa “Amor e Sexo”, da Rede Globo. Em 2017 estourou com o primeiro álbum “Vai Passar Mal”. 

          Para terminar esta viagem, se alguém aqui se sentir representado, fiquem à vontade para se manifestar a seu favor, quem sabe seu nome não será lembrado nos anais das galerias de artes, nos anuários de literatura, nos pós-créditos de algum filme ou novela, nas estantes das livrarias virtuais, porque físicas talvez seja um pouco mais difícil, já que quem não ler sequer um artigo com uma ou duas laudas, provavelmente não se interessa por um livro com mais páginas.

Fonte: www.facetubes.com.br


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