quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Tempos sinistros, artigo do advogado André Braga


Tempos sinistros

André Braga*

A começar pela data, de trás pra frente, diz-se tratar-se de número palíndromo, mais propriamente, capicua, o fato é que há uma sucessão de interrogações desde o término da apuração das eleições.

Bravamente, uns e outros apoiadores de Bolsonaro num levante nunca visto na história desse país, rebelam-se como podem, seja nas redes sociais ou mais propriamente nas estradas, rodovias e, ainda, individualmente, numa toada que mais se presta a acirrar a polarização do que o desejo de pacificação.

Também nunca se viu ante o resultado das eleições, desde a redemocratização, um silêncio perturbador daquele que foi derrotado nas urnas, a despeito de ser este, até agora, o único presidente que não conseguiu a reeleição.

O confinamento e as diversas especulações, ora acometido por forte depressão, ou ainda, pelo agravamento das sequelas do atentado que sofrera, ensejando a hipótese de novo procedimento cirúrgico, até mesmo, como se propalou por aí, teria sido vítima, (vítima?) de traição doméstica, enfim, nunca se sabe o que se passa no âmbito privado, contudo, o que se sabe, é que infere-se um estado de torpor que impediria o atual presidente de desempenhar, como há pouco vinha fazendo, suas atividades normais, presencialmente e/ou nas redes sociais.

Enquanto isso… segue a Copa do Mundo, antes, porém, o eleito, já desfrutando do que mais gosta de fazer, delegar atribuições e viajar, agora ainda mais num estado de Lua de Mel, tanto com a sua socióloga e mesmo com os seus militantes, vem logrando o êxito do apagamento do outro, ainda, em tese, no exercício do cargo e auferindo os louros de algo que ainda não lhe pertence oficialmente, isso porque, até lá, águas ainda podem rolar por debaixo da rampa do planalto.

Eis os tempos.

A comissão de transição, já instalada, opera a aprovação da PEC da Transação, pois é; fura-se o teto de gasto, indefinidamente e cria-se, vejam, uma âncora fiscal. Para poucos entendedores de Economia e aí eu me incluo, seria algo como uma licença para gastar e o freio se dá quando o próprio condutor julgar que seja o momento ideal para fazê-lo, a despeito de chuvas e trovoadas.

Molhados já estamos, os trovões são alertas para além dos raios, que sempre caem primeiro. Seria como uma voz estrondosa que alerta para além do flash produzido pelos raios e, algumas das vezes, sem a percepção real do fato da natureza.

Economistas de escol alertaram para o risco do teto furado e o escanteio da situação fiscal; outros justificam a medida política com o viés do passado, por acreditarem que já não há telhado que não permita a chuva passar. O melhor da estória toda é que os catedráticos, formadores de opiniões abalizadas, Míriam Leitão que o diga, em bom tom, em seus canais globais, que o teto já nem é tão importante assim, ora a sucumbir o que dita aquele que será entronizado logo em breve.

Por isto e paralelo ao que se passa, outras especulações surgem no dia a dia e uma das mais recentes versa sobre o que se escutou, pois é, as conversas ecoam aos quatro ventos e propala-se que um ministro do TCU havia especulado sobre algumas ações dos militares ante a balbúrdia que se revelou o processo de apuração das urnas eletrônicas e os próprios da caserna estariam a, digamos assim, aptos a passar o Brasil a limpo.

Penso que seja grave esse tipo de conjectura, mas mais grave ainda é saber que – também isso se revelou por meio da imprensa – que tem ministro do STF (veja se isso seria papel de ministro de Corte Suprema) tentando dissuadir o partido derrotado a não promover nenhum questionamento quanto ao resultado conflagrado nas urnas, como se fosse objetivo aceitar aqueles números pacificamente, afinal, a insurgência faz parte da democracia, pois, pensar o contrário seria prestigiar o arbítrio.

Há quem deseje ou sugira, jocosamente, que a Argentina questione, no Catar, o resultado da sua estreia na Copa do Mundo, ali, porém, a tecnologia e os códigos fonte do VAR estão à disposição dos consulentes… isso, pasmem, lá no Catar, conquanto aqui, no Brasil, o meme deveria ser assim: Perdeu, vá se Catar! Teríamos alguma chance, não?

*André Braga é advogado.


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