70 Anos do Poeta Mhario LIncoln

70 Anos do Poeta Mhario Lincoln

Eu cheguei aos 70 anos: e agora? O que faço? Como faço? O que posso deixar de fazer?

"Venho tentando entender (porque eu funciono direto nos 220 watts) esse tema 'velhice', há alguns anos. (MHL).

26/03/2024

Por: Mhario Lincoln - Fonte: Mhario Lincoln

Cheguei aos 70 anos. E agora? O que fiz? O que deveria ter feito? O que devo ainda fazer? O que estou fazendo com o amor que os outros estão me dando? O que devo continuar fazendo a partir de agora, diante de um mundo cada dia mais estranho, corruptível, sem Fé e sem Família?

Será que meus exemplos estão sendo aproveitados por meus netos? Se eu, pela idade, sou o conselheiro, a quem recorrer quando precisar de conselhos?

O que dizem os velhos filósofos sobre a velhice, os pensadores do século XX sobre viver a velhice? O que dizem Freud e Lacan sobre isso? Até que ponto a certeza de que é 'o começo do fim' pode atrapalhar a consciência? O que diz a Bíblia sobre enfrentar a velhice com dignidade? O que fazer no começo da velhice ao saber que muitos ficaram para trás ou esqueceram de mim?

O que fazer ao entrar no ano da comemoração de meus 70 anos, com poucos cartões de Natal e Ano Novo na gaveta? O que aconteceu? As pessoas esqueceram da existência de um septuagenário? Os velhos não têm mais oportunidades de socializarem com a juventude? Que mal os velhos fazem a cada ano, para serem deixados de lado? O que resta, então, a um homem de 70 anos fazer?

Alguém disse que só há dois caminhos: esperar a morte ou rejuvenescer as ideias. Confesso que desde o dia 01 de janeiro de 2024 venho lendo bastante sobre esse assunto. E sei que esses tais "livros de autoajuda" (entre aspas, mesmo), falam tanto blá-blá-blá, mas que na prática, blá-blá-blá não 'põe mesa', como dizia minha avó, poeta Isabel Fialho Felix, autora do livro "O Por do Sol da Minha Terra", sobre quem só 'enrolava' e não queria trabalhar, na época.

Venho tentando entender (porque eu funciono direto nos 220 watts) esse tema 'velhice', mais como algo que force reflexão, do que propriamente algo muscular ou físico. Aliás, em tudo que li acerca disso, sempre acreditei, primeiro, na sabedoria e na tranquilidade que a velhice oferece. Aliás, o envelhecimento é uma oportunidade para o crescimento intelectual e moral.

Tanto que, para Johann Wolfgang von Goethe, com quem procuro conversar sempre que posso, me ensinou que a idade não deveria ser um impedimento para a criatividade ou para o aprendizado contínuo. A velhice é sempre uma oportunidade para refletir sobre as experiências da vida e continuar crescendo intelectual e espiritualmente.

Procurei consolo igualmente em pensadores contemporâneos, como Luiz Felipe Pondé. Ele aborda a questão da velhice com realismo, limitando os desafios que ela pode trazer, mas também enfatizando a importância de encontrar propósito e significado na vida, em qualquer idade. Ele incentiva (inclusive fiz-me imergir imediatamente no conceito) a uma postura "ativa e curiosa" diante do mundo, enquanto Mario Sergio Cortella enfatiza que as pessoas a partir de 70 anos, devem "continuar se desafiando intelectualmente" e cultivando ainda mais "a gratidão pelas experiências vividas". Até mesmo Friedrich Nietzsche valorizava a ideia de "amor fati", ou seja, aceitar e abraçar tudo o que acontece na vida, inclusive a velhice.

Sigmund Freud explorou a ideia de que a velhice poderia trazer desafios, como a confrontação com a “finitude da vida e o enfrentamento da morte”. Jacques Lacan abordou a questão como uma “oportunidade para repensar a identidade e o sentido da vida”. Um claro equilíbrio de sugestões, não acha?

Nunca esqueci uma passagem do Salmo 71:18: "Ainda na velhice darão frutos; serão viçosos e vigorosos." Será que consigo? A Bíblia frequentemente enfatiza a importância da sabedoria e da experiência que vêm com a idade. E foi na Bíblia, também, que pude avaliar a questão doída sobre o isolamento e a falta de reconhecimento em idades avançadas: 70 é o começo.

Mas deixei para o final, a frase que li em uma das belas crônicas da psicóloga geriatra Laura Neres. Aliás, foi o título da primeira matéria dela, publicada na Plataforma do Facetubes:"Você não está morrendo. Só está envelhecendo".

Tenho a impressão de que tal frase resume tudo que eu poderia questionar hoje. Afinal, Mutatis Mutandi, completo 70 anos. Feliz aniversário para mim, porque "só estou envelhecendo...”.

Mhario Lincoln

Presidente da Academia Poética Brasileira