domingo, 7 de abril de 2024

O CACHORRO DO GRAMAFONE DA ‘RCA VICTOR’ - Por Mhario Lincoln


O CACHORRO DO GRAMAFONE DA ‘RCA VICTOR’


Mhario Lincoln*

Estava em Cambé, cidade perto de Londrina, no Estado do Paraná. Havia escolhido aquela pacata cidade para cumprir algumas funções filantrópicas, fazer algumas visitas e rever familiares. Fico hospedado na casa de uma cunhada, que trabalha em um dos hospitais da cidade.

Era sexta-feira, 8 de outubro. Quando acordei, meus familiares haviam saído para o Hospital e eu deveria seguir o mesmo destino. Preferi caminhar. São poucas quadras que separam as duas edificações. Porém, acabei me perdendo.

Tinha que seguir uma avenida longa, no sentido contrário ao fluxo, até encontrar uma Igreja. Depois, virar à esquerda e seguir mais duas quadras, passar por um beco (ao lado da Igreja Matriz), até chegar ao meu destino. Porém na primeira esquina da tal avenida – confesso que não sei por qual motivo - entrei à esquerda. Dei alguns passos e vi que havia errado o trajeto.

Quando ia retornar pelo mesmo caminho, vi um cachorro de pelos pretos e patas brancas. Um vira-lata desses pequenos. Ele estava bem à minha frente. De pé. Sabe aquele selo da gravadora musical ‘RCA Victor’, que produzia discos de vinil? Aquele cachorro ‘sentado’ ao lado de uma vitrola? Era essa a posição do cachorro. Ele me olhava firme.

Claro que fiquei apreensivo e por isso, parei por alguns minutos. Aí ele veio, cheirou meus tênis e parou bem na minha frente, há uns 2 metros. E eu continuei estático.

De repente ele balançou a cabeça da direita para a esquerda e começou a caminhar. Eu fique parado. Ao me ver parado, ele também voltou a sentar na posição ‘RCA Victor” de frente para mim.

Voltou a balançar a cabeça e começou a caminhar. Então decidi acompanhá-lo. Ele dobrou a esquina, subiu a ladeira e eu acompanhando. Vez por outra ela olhava para trás como se quisesse conferir se eu estava ali, seguindo.

Uns cinco minutos depois – não foi mais que isso – lá estava o Hospital à minha frente. Acabei fazendo um outro percurso que nem mesmo eu poderia imaginar.

Cheguei tão rápido que levei um tremendo susto. Susto maior foi ver o cachorro se acomodar por debaixo do banco, ao lada da entrada de veículos. E de lá, balançou o rabo como se fosse ‘uma despedida’. Deitado, ali, confortavelmente, adormeceu.

Entrei pasmo no Hospital. Foi uma experiência incrível que me leva a crer em algo maior que uma simples coincidência. Isso porque ao contar o fato para meus familiares, voltamos à porta onde o cachorro estava deitado e não o encontramos mais.

Ainda circulamos pela quadra – quando íamos a um restaurante para almoço – na tentativa de encontrá-lo, mas ele havia sumido.

Voltei ao local no outro dia e no outro. Havia aprendido aquele caminho rápido e seguro, que não pela avenida movimentada e nem usando o itinerário (normal), que me obrigava a passar pelo tal beco, onde geralmente tem uma galera meio estranha por lá, a qualquer hora do dia.

Sem dúvida, uma experiência que vou me lembrar sempre. Acho que, essa, me levou a escrever o poema abaixo:

*****

No meu Caminho havia um Cachorro

*Mhario Lincoln

*****

O que pensa ele de mim?

Pareço amigo ou domador,

Incisivo ou persuasivo,

Grande ou pequeno,

Cheiro a figo ou acetileno,

Falo a língua do “au-au” ou engano,

Sou sereno ou espartano,

Dieto-me com coração ou ração,

Como insosso ou roo osso?

Sei lá meu cão, meu amigo,

Com saudades vou e fico.

Mas, uma coisa é certa:

Você não teve desastrosa paixão,

Nem usa o cio, sem razão.

Você do insano Homem, é o cão,

Melhor amigo, sem solidão.

Vem meu cachorro.

Vem emprestar-me teu viver,

Vem-me ensinar a não sofrer!...

De saudades morrerei... e morro.

Nem precisa ser tão inteligente:

- Abaixo essa tal de ‘vida de cachorro’!

Pois alma de cão é alma de gente.

*****

Na foto abaixo, eu com Mercedes (MECA), a cachorriinha de meus netos menores.




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