terça-feira, 21 de maio de 2024

Como um cão, artigo de Tatiana Potrich


Como um cão

Tatiana Potrich*

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Reza a lenda que um filósofo saia às ruas, em pleno sol a pino, portando uma lamparina acesa, em busca de um homem honesto. Este cínico foi Diógenes de Sinope (323a.C.), idealizador da vertente filosófica do Cinismo. 

Cínico vem do grego kynismos, que significa como um cão. Cinismo é viver uma vida semelhante ao do cão, um ser vivo fiel, que não se queixa, seja qual for a comida que estiver ao seu alcance, não resmunga da cama que dorme, vive cada dia com plenitude e se diverte com o pouco que lhe é oferecido. Uma vida simples e feliz, leal e adaptativa. Uma total falta de apego material, falta de pudor, fidelidade à filosofia, comportamento feroz com aqueles que não gosta e uma subjetividade sarcástica como verdade. Praticar o cinismo, atualmente, é flertar com a doutrina filosófica contemporânea do Biocentrismo.

Idealizada pelo médico Robert Lenza, introduz sete princípios transgressores que colocam a consciência como fundamental criadora do Universo ao contrário da ideia clássica, onde o Universo cria a vida. Ascende a premissa, seja ela uma pseudociência, a potência da crença na vida pós morte. O discurso sobre o espaço e o tempo, a matéria e a não matéria, quiçá a matrix, comunga com uma verdade sarcástica que até Deus duvida.

O físico brasileiro, Marcelo Geiser defende uma mudança de padrões na forma que enxergamos a ciência e o comportamento social do nosso sistema consumista. Em seu novo livro, defende que o compasso moral coloque a vida no centro das prioridades e repense como nos relacionamos com a natureza. Ele acredita que o biocentrismo é um norte para novos hábitos e concepções eficientes no senso comum. (Revista Galileu, 12/05/2024)

Adotar cachorros para serem bebês, colocando neles fraldas, chupetas, chapéu de aniversário, fantasia de borboleta, bolsa, sapato e uma baboseira de coisas consumidas sem propósito é o primeiro passo para enfrentar a realidade e a verdade, na percepção de um bom, crítico e cínico filósofo. Entender nossos excessos, nos aproximar da vida selvagem e real que acontece lenta e discretamente na Natureza é o remédio mais acertado para fazermos as pazes com nossa consciência, com nossa vida e posteriormente nossa morte (pós-morte).

Biocentrismo significa a vida como centro do Universo.

*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais

(artigo publicado originalmente no Portal aredacão.com.br)


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