sexta-feira, 12 de julho de 2024

A DOR - poesia de Antero de Quental

 

A DOR

 


(Antero de Quental)

 

Vi a dor caminhando em negra estrada,

Qual megera da sombra, em noite escura,

E perguntei, ralado de amargura:

─ “Por que nasceste, bruxa desvairada?”

 

“Por que ostentas a espada estranha e dura,

Sobre o seio da vida atormentada,

Reduzindo à miséria, cinza e nada,

Todo sonho de paz e de ventura?”

 

Mas a Dor respondeu: ─ “Cala-te, amigo!

Na torturada senda em que prossigo,

O veneno do mal morre infecundo.

 

Sem meu gládio que salva, pouco a pouco,

O homem padeceria cego e louco

Em tenebrosos cárceres do mundo!...”

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