A DOR
(Antero de Quental)
Vi a dor caminhando em negra estrada,
Qual megera da sombra, em noite escura,
E perguntei, ralado de amargura:
─ “Por que nasceste, bruxa desvairada?”
“Por que ostentas a espada estranha e dura,
Sobre o seio da vida atormentada,
Reduzindo à miséria, cinza e nada,
Todo sonho de paz e de ventura?”
Mas a Dor respondeu: ─ “Cala-te, amigo!
Na torturada senda em que prossigo,
O veneno do mal morre infecundo.
Sem meu gládio que salva, pouco a pouco,
O homem padeceria cego e louco
Em tenebrosos cárceres do mundo!...”
*****
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.