segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Nordeste-se - artigo de Tatiana Potrich


Nordeste-se

Tatiana Potrich*

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Um bom e legítimo brasileiro, aquele tupiniquim da gema, não pode negar de jeito nenhum uma espécie de apreço afetivo e eterna gratidão à região nordeste do país. Naquele mar de possibilidades, onde aportaram desbravadores, em terras paradisíacas, de um povo exótico, pelado, plumado e vistoso. 

A Bahia com seu irresistível e aclamado acarajé, a arte da capoeira, o pelourinho, os tambores do Olodum, do afoxé, dos filhos de Gandhi, de Gil. 

Samba do coco, literatura de cordel, o trabalho no couro, os 'violeiros' nas cerâmicas e a tradicional renda de bilro se intensificam mais nos estados próximos, vizinhos, Piauí, Sergipe e em especial, Alagoas. Na cidade de Capela artistas/artesãos se destacam no mercado popular e internacional, conquistando colecionadores por todo mundo com preciosidades esculpidas na argila, como João das Alagoas, Leonilson Arcanjo e Sil da Capela. 

 

"Ei, nortista, agarra essa causa que trouxeste

Nordestino, agarra a cultura que te veste

Eu digo norte, vocês dizem nordeste

Norte, nordeste, norte, nordeste"

 RAPadura - "Norte Nordeste me veste"


Temos de admitir aqui que, a invasão holandesa foi um mal que veio para o bem, Pernambuco não seria o que é se não fosse o embate cultural entre estes europeus um tanto transgressores. Mestre Vitalino, Lampião, Francisco Brennand, Janete Costa, o frevo, Chico Science e o maracatu atômico que veio para ficar.

Para o alto e avante tem mais Paraíba e Ariano Suassuna, Rio Grande do Norte e suas dunas, Ceará de Mestre Espedito e tantos bons comediantes.

Maranhão tem os lençóis e as famosas cerâmicas da figura do sertanejo "pezão". Apontando um contexto histórico social, a escultura enfatiza o período da escravidão, quando apenas os negros alforriados tinham o direito de usar sapatos.

Cada Estado conta suas desgraças e delícias, suas histórias de dores e prazeres através da cultura como um gesto de fé e libertação, resgate ancestral e manifestação para se autoafirmar como nação.

Estudar, pesquisar e valorizar o nordeste é navegar em águas mornas, experimentar também os desprazeres do luxo, do eurocentrismo, do made in China. É abrir as mãos e tocar na lama, no sangue de gerações que lutaram para estarmos hoje aqui, vivos, resgatando nosso manto Tupinambá.

Vem com a gente desbravar um jardim de possibilidades. 

Aguardem para mais spoiler!

*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais

(artigo publicado originalmente no portal aredacão.com.br)


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