sexta-feira, 27 de setembro de 2024

O direito a ser e viver numa cidade - artigo de Dom Roberto Francisco Ferreria Paz


O direito a ser e viver numa cidade

27 / 09 / 2024

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 

Bispo de Campos (RJ)


Parece ao ler os programas de candidatos a prefeituras e vereanças  que falta um sonho, uma utopia e até um projeto de habitar uma cidade e torná-la mais bela, inclusiva, fraterna e justa, para todos os nela residentes. Tem se dito que o problema mais grave das cidades especialmente as megas, seria a segurança. E como sempre se trata do tema de uma forma imediatista e fragmentada. Que segurança, para quem e como construí-la de uma forma coletiva? Ainda, a segurança não é apenas a da criminalidade, mas vemos por experiência que pela crise climática que nossas cidades são ameaçadas pela falta de plano de enfrentamento as emergências climáticas, de contenção de enchentes e deslizamentos.  

A crise hídrica agravada pelas secas apresenta um quadro que se não ser revertido dificultará o abastecimento de água bem como a sua qualidade para o consumo. O uso crescente de agrotóxicos não respeitando os padrões de cautela e a falta de apoio para a agricultura familiar e orgânica prejudica certamente nossa segurança alimentar.  

O aumento da população de rua e a escassez de moradias mostra a carência de teto e habitação para muitas famílias. A saúde e a educação que configuram os investimentos públicos que trazem mais retorno e impactam mais o desenvolvimento integral elencam demandas de mais médicos, valorização do ensino, curadores e acompanhantes para autistas e portadores de deficiência, superação da violência nas escolas.  

E finalmente a defasagem e péssimo serviço ou inexistência do transporte público permanece um grande passivo para a população das cidades. Diante disso propagandas caras e personalistas, que focalizam em promessas genéricas e projetos sem consistência e operacionalidade.  

Está na hora dos cidadãos reencantarem a política, de esperançá-la com maior participação e controle social nos conselhos paritários, na fiscalização e acompanhando a gestão e as sessões das câmaras municipais, tecendo leis de iniciativa popular, cobrando transparência e accountability dos prefeitos e da administração pública. O vazio de participação e de consciência política do cidadão incentiva a corrupção e a cakistocracia o governo dos piores, como do cinismo e do perdularismo na administração.  

O voto não tem preço, traz compromisso, coerência e dignidade para o cidadão que deve voltar a ser agente de mudanças e construtor da sua própria cidade. Deus seja louvado! 


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