Opinião pública desgovernada
Escrito por
Luiz Philippe de Orleans e Bragança*
A opinião pública desgovernada pode gerar grandes mobilizações políticas, transformando pequenas ações em reações em massa. Em Paris, anos 90, foi feita uma curiosa experiência social: colocaram um estudante para andar na calçada, seguindo o fluxo de pedestres. Em determinado momento, ele se virava bruscamente, correndo na contramão. O experimento buscava avaliar quantos estudantes, seguindo esse roteiro, seriam necessários para causar um efeito em massa. O resultado determinou que seriam necessários cerca de 10 estudantes simultaneamente, para gerar pânico nos demais pedestres, o que aconteceu. Isto é, um pequeno número de pessoas foi capaz de gerar efeito cascata em centenas de pessoas.
Na mobilização ocorre o mesmo. Ditadores e democratas estão sempre em alerta para saber quando a opinião pública atinge uma massa crítica sobre um determinado tema ou pessoa para resolverem agir. Mas, e se houver massa crítica suficiente e mobilização? Nessa situação, a opinião pública funciona como um ônibus lotado descendo sem freio ladeira abaixo.
Você pode optar por ficar dentro do ônibus, para energizar as demandas e expectativas da opinião pública; em cima do ônibus, para avisar qual direção o veículo está tomando, ou mesmo orientar sobre a direção correta; por fim, ao lado do ônibus, para analisar a trajetória ou sugerir possíveis alternativas. Essa também é uma postura válida, pois quem está fora pode ver algo que quem está dentro não vê: uma curva, valeta ou pedra que possam causar acidentes. São posicionamentos daqueles que ajudam o processo político: dentro, acima e ao lado significam energia, direção e estratégia, respectivamente.
Só há uma posição que devemos evitar: na frente do ônibus. Quem fizer isso será atropelado, pois escolheu o local reservado aos inimigos políticos e será colocado de escanteio pelo movimento. Estamos próximos de um momento onde a opinião pública desgovernada e as mobilizações políticas determinarão o futuro das reformas que tanto defendemos.
Desde que me lancei na política, alertei para a falência do modelo de Estado, a péssima Constituição de 1988 e as muitas razões de nosso país ser tão atrasado. Hoje, muitos percebem que nosso estado de direito não existe mais e falam em reformas e revisão constitucional. Ainda não há massa crítica para lotar um ônibus, muito menos definir a ladeira certa, mas estamos chegando lá: juristas, desembargadores, advogados, políticos e ativistas qualificados já compraram seus bilhetes. Compre o seu, porque logo o carro vai partir.
*Luiz Philippe de Orleans e Bragança é deputado federal
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