Do brilho das festas à escuridão do futuro: o alerta que o Maranhão precisa entender
Por Simplício Araújo
Enquanto muitos acreditam que festas como o Carnaval e o São João podem, por si só, impulsionar a economia maranhense, os números mostram outra realidade: o Maranhão está ficando para trás. E não é por falta de potencial, mas sim por ausência de visão, planejamento e gestão por parte dos que deveriam liderar o desenvolvimento do nosso estado.
Ministros, senadores, deputados, gestores estaduais e prefeitos não têm conseguido transformar o Maranhão em uma terra de oportunidades. E é fácil comprovar isso com dados públicos e comparações com estados vizinhos — como o Piauí — que há pouco tempo tinham índices semelhantes aos nossos e hoje nos ultrapassam em vários aspectos.
Comecemos por um ponto que conheço bem: a geração de empregos. Quando fui secretário de Indústria e Comércio, implementamos uma política de desenvolvimento que, até 2022, gerava cerca de 44 mil empregos por ano. Em 2024, esse número caiu para 15 mil. Isso mostra que algo se perdeu. E, ao contrário do que se propaga, o impacto das festas populares não é suficiente para mudar esse cenário — o que se vê é o crescimento da informalidade, e não de empregos estruturados, com carteira assinada e garantia de direitos.
Outro dado preocupante está no crescimento do agronegócio. O setor, que poderia ser uma das locomotivas da nossa economia, sofre com a burocracia, o compadrio e a falta de apoio técnico por parte do Estado. Enquanto o Piauí prevê crescimento de 10,5% no agronegócio este ano, o Maranhão deve crescer apenas 6,2%, segundo a Resenha Regional do Banco do Brasil, publicada em maio de 2025.
Na mesma publicação, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é de apenas 1,9% para o Maranhão, contra 3,7% do Piauí. E vale lembrar: o Piauí também tem Carnaval e São João, mas conta com governança eficiente, metas claras e gestão pública qualificada — o que infelizmente falta ao Maranhão hoje.
Outro dado que revela a estagnação econômica está no setor da construção civil, historicamente um dos maiores empregadores do país. Em 2025, o Maranhão cresceu apenas 1,3% em empregos no setor. Já o Piauí alcançou 6,9%, mais uma vez nos deixando para trás.
E como se tudo isso não bastasse, temos 120 mil famílias maranhenses sem acesso à energia elétrica, mesmo sendo um dos estados que mais produz energia no Brasil. A ironia: a partir de agosto, o Maranhão pagará a conta de luz mais cara do país, com aumento médio de 21%. A decisão passou quase despercebida pela sociedade e contou com a omissão de praticamente toda a classe política e das instituições que deveriam representar o povo — exceção feita ao sindicato dos urbanitários e a nós, que nos levantamos contra esse grave retrocesso.
É com base nesses dados e nessa realidade que faço um alerta: enquanto priorizarmos festas e arranjos políticos em detrimento de planejamento, trabalho e visão de futuro, o Maranhão continuará perdendo seus talentos para outros estados. A juventude continuará buscando oportunidades fora, e nossas riquezas naturais e potenciais econômicos seguirão sendo desperdiçados.
O Maranhão pode muito mais. Mas, para isso, precisa de liderança comprometida com resultados — e não apenas com festas e planos de poder familiar.
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