Delfim Netto (*)
É fato que a economia brasileira: 1) perdeu o
vento de “cauda” da conjuntura mundial que a impulsionou de 2003 a 2010, mas
mudou de direção em 2011, dificultando o seu crescimento; 2) tem um deficit em
conta corrente insustentável de US$ 80 bilhões por ano (3,5% do PIB) devido ao
uso da taxa de câmbio para controlar a inflação; 3) e sofre os inconvenientes
da taxa de câmbio valorizada que são muito superiores aos seus eventuais
benefícios na redução da taxa de inflação.
Esta continua a namorar o limite superior de
tolerância da meta (6,5%), mas, obviamente, não está fora de controle e 4) por
tudo isso, paga o preço de um crescimento minúsculo (talvez 1,7% ao ano em
2011-2014) que, pelo menos em parte, é responsável pela desconfortável situação
fiscal, mas que está longe de ser apocalíptica.
Começamos a tomar consciência de que as
desejadas políticas de inserção social, redução das desigualdades e ênfase no
aumento da igualdade de oportunidades, ínsitas na Constituição de 1988, criaram
uma modesta mas numerosa classe “média” em um mercado de 200 milhões de
cidadãos. Para que elas continuem com sucesso, é preciso voltar a crescer com
melhor equilíbrio. Seguramente esse é um problema menos difícil do que a
quadratura do círculo com régua e compasso, mas está muito longe de ser
trivial.
O que é, afinal, esse fenômeno a que damos o
nome de desenvolvimento? É apenas o codinome do aumento da produtividade do
trabalho. Ele depende de muitas coisas: do tratamento e dos estímulos dados a
cada trabalhador e aos empresários, do ambiente de trabalho, da disposição de
cooperação efetiva de cada um no processo global etc.
Mas depende de duas condições necessárias
(ainda que não suficientes): 1) é preciso alocar a cada trabalhador um volume
crescente de capital físico (por exemplo, trocar um arado puxado a boi por um
trator) que incorpore ganhos tecnológicos e 2) é preciso dar a cada trabalhador
a capacidade, isto é, o preparo técnico, para tirar proveito da sofisticação do
estoque de capital que lhe é alocado.
Simplificando: desenvolvimento econômico =
aumento da produtividade da mão de obra = mais capital físico com sofisticação
crescente para cada trabalhador associado ao seu preparo técnico para operá-lo.
Como fazer isso sem a cooptação dramática do
setor privado depois que a política de inclusão empregou toda a mão de obra com
pequenas habilidades e baixa produtividade, logo, com baixos salários (o que
explica o “mistério” do baixo crescimento do PIB com baixo desemprego)?
A resposta cabe aos dois candidatos.
(*) ex-ministro da Fazenda
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