Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
As crises no atual contexto da sociedade demandam
qualificados investimentos em educação. A escola formal é muito importante,
pode transformar processos, mas deve ser permanentemente repensada. Essa
atitude reflexiva é necessária justamente para que a dimensão “formal” da
escola, seu componente constitutivo, não se torne, no lugar de um processo
libertador e alicerce de um novo humanismo, um caminho para a produção de
polarizações e radicalismos, que tanto pesam sobre a sociedade. Preocupante
também é a quantidade de diplomados sem capacidade para liderar e impulsionar
processos, mesmo os mais simples. Trata-se de uma carência que atrasa a
superação das muitas crises.
O tratamento inadequado da realidade educacional no país
penaliza os estudantes e os processos de ensino. Se a educação é prioridade,
torna-se inaceitável a imposição de sacrifícios às instituições educativas e
aos seus destinatários: os alunos. Esses sacrifícios comprometem a formação
pessoal e profissional. Por isso, espera-se lucidez política e governamental
para que problemas criados por outros não imponham dificuldades aos que são
esperança do futuro. No conjunto de instituições educativas, deve-se considerar
a família, a primeira escola. Indicações oportunas, que precisam ser
refletidas, estão na mensagem do Papa Francisco para o 49º Dia Mundial das
Comunicações Sociais, celebrado pela Igreja Católica, no mundo inteiro, neste
mês de maio. A mensagem sublinha que a família há de ser compreendida sempre
como um ambiente privilegiado do encontro na gratuidade e no amor. Por isso
mesmo, é uma escola.
Encontro e gratuidade têm que ser aprendidos, vivenciados e
exercitados. Essa capacitação, de caráter espiritual, é indispensável para que
a sociedade enfrente suas muitas dificuldades e encontre saídas. Não se pode
limitar a compreensão da crise econômica, por exemplo, considerando que sua
superação passa apenas por números e taxas. A falta de qualidade humanística,
em todas as etapas da história, é o nascedouro de desastres. Trata-se de base
para os descompassos, fonte de prejuízos na sociedade. Investir na formação
humanística, que começa no contexto familiar, eis uma saída no processo
exigente para prevenir e superar crises.
Por isso, a Igreja coloca a reflexão sobre a família no
centro de suas prioridades. Será realizado em outubro deste ano, em Roma, a
partir de convocação do Papa Francisco, o Sínodo dos Bispos que aprofundará
essa reflexão. A Igreja é consciente do caráter determinante da família na sua
missão e na sua constituição. Esta consciência sobre a importância do contexto
familiar precisa ser cada vez mais partilhada por todas as instituições da
sociedade, particularmente as governamentais.
A aprendizagem singular e insubstituível da comunicação na
escola da família abrange a vivência de dinâmicas que qualificam para que se
conviva com a diferença. Isso é exigência fundamental na vida contemporânea. É
na família que se aprende a língua materna, uma força que desperta a capacidade
de percepção e incita o sentido de viver e de fazer algo de bom e belo. A
experiência de se constituir vínculos no contexto familiar é determinante na
formação da competência para gerar respostas. É na família que se inicia também
a configuração de uma indispensável espiritualidade, sem a qual não se dá conta
de viver adequadamente.
Comprometida a instituição familiar, e consequentemente os
processos de comunicação, muitos serão os prejuízos. Basta listar e analisar
situações em que atores inadequadamente interagem, manifestam incompetência
para uma comunicação capaz de gerar o que é bom e belo. A estrutura básica de cada
pessoa - que inclui a capacidade para interagir -, para ser edificada, depende
da família, lugar singular do abraço, do apoio, dos olhares comunicativos, do
silêncio, do rir e chorar juntos numa experiência de amor entre pessoas. A
família precisa estar mais na pauta cotidiana de instituições e de governos
para que a sociedade não sofra grandes perdas e sacrifícios. O tratamento
adequado dessa tão importante instituição é inadiável. Todos devem reconhecê-la
como importantíssima escola.
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