Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Nem sempre temos coragem de enfrentar críticas, oposições e
situações conflitantes e problemáticas. Em nossas tarefas cotidianas, porém,
surgem empecilhos que nos deixam perplexos e com vontade de desistir de
continuar na missão e tarefas próprias de nossa condição de vida ou vocação. No
entanto, é preciso sermos responsáveis para não deixarmos o barco da função ao léu. Muitos, para não perderem as
vantagens do cargo, preferem ir pelo caminho
da corrupção e não ter que fazer denúncia de quem lhes oferece propinas
para não ser processado e perder o cargo. Isso acontece demais, principalmente
na coisa pública. Até pessoas de aparência ética, de freqüência e atividade
religiosa, eleita por essa sua comunidade, trai a mesma por interesse monetário
e de cargos. Como fica sua consciência, se é que tem consciência e grandeza de
caráter?
Na Bíblia encontramos exemplos de missão dada por Deus a
profetas, para irem aos rebeldes, por exemplo: “Filho do homem, eu te envio aos
israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim. Eles e seus pais se
revoltaram contra mim até o dia de hoje. A estes filhos de cabeça dura e
coração de pedra vou te enviar” (Ezequiel 2,3-4). O profeta obedeceu e cumpriu
sua árdua missão, apesar de ter sido perseguido. Sua tarefa de sentinela foi
cumprida. Também isso acontece demais. Os que apresentam o que é justo, ético,
conforme a dignidade humana, a verdade e o bem nem sempre são aceitos por quem
vive só para o próprio egoísmo e buscando vantagens. Este último usa do lícito
e do ilícito para sempre ganhar em aparência de prestígio e de bens materiais.
Mas se diminui como pessoa humana, tornando-se desumana e sem moral. Ganha
aparentemente, mas perde, de fato, em sua dignidade. A Bíblia até fala que vale
mais a pouca riqueza de quem ganha honestamente do que a muita adquirida
corruptamente!
A tentação do desânimo às vezes surge em quem quer ser ético
e ajudar a melhorar a situação de injustiças, principalmente na área política.
Nesta, corruptos querem derrubar quem profeticamente defende o direito e o bem
comum, com o uso do poder para servir o povo. Todo político eleito é empregado
do povo e deve usar do cargo honestamente para realizar a promoção da boa
educação, saúde, segurança, transporte e tudo o mais necessário para a vida
digna de todos, a partir dos mais carentes. Não pode usar do cargo para roubar
o que é do povo! Nessa situação, os bons às vezes se sentem sem forças para
continuarem a acreditar que um mundo novo é possível, inclusive, no meio
desses, os bons políticos, que “salvam o barraco”! O apóstolo Paulo,
sentindo-se fraco, rogou a Deus, que lhe falou: “Basta-te a minha graça. Pois,
é na fraqueza que a força se manifesta” (2 Coríntios 12,9). A força da graça
divina dá coragem à pessoa do bem a perseverar na missão encetada.
O próprio Jesus constatou que um profeta não é aceito em sua
terra (Cf. Marcos 6, 4). Nem por isso Ele desanimou. Foi até o fim com a missão
que o Pai lhe deu de salvar a humanidade, mesmo nela tendo os rebeldes e duros
de coração. Quem não quer aceitá-Lo Ele não impõe, mas a pessoa não consegue a
salvação. Esta vem de Deus, mas é preciso a pessoa aceitar. Quem quiser ir pelo
caminho do precipício é bom que pense duas ou mais vezes. A corrupção, a
desonestidade, a falta de caráter, o querer se fazer e ganhar a qualquer preço
vai perceber, na hora da doença e da morte, que tudo não valeu a pena. Esta
vida na terra é passageira. Vale a pena superar a rebeldia pessoa e se dobrar
ao bem, ao ético e à necessidade de se viver com dignidade moral!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.