BRUNO CALIXTO (ÉPOCA - Blog do Planeta)
Uma onça-parda identificada em armadilha fotográfica em área de Caatinga do Rio Grande do Norte. Espécie é rara na região (Foto: Projeto Caatinga Potiguar) |
A onça é um dos felinos mais característicos do Brasil,
presente em todos os biomas. No semiárido brasileiro, entretanto, sua situação
é crítica. A onça-pintada (Panthera onca) é considerada como "Criticamente
em perigo", e a onça-parda (Puma concolor) é definida como "Em
perigo". Um novo estudo feito na Caatinga do Rio Grande do Norte confirma
a situação e mostra que esse carismático felino corre o risco de desaparecer do
Nordeste brasileiro.
O estudo é o maior inventário de mamíferos feito na
Caatinga. Ele foi elaborado pela ONG Wildlife Conservation Society (WCS-Brasil)
e pelo órgão ambiental estadual do Rio Grande do Norte, o Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema). Segundo Carlos Fonseca,
professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e um dos
autores do estudo, o objetivo é entender a atual situação dos animais da região
para saber quais as oportunidades para preservar espécies. "A Caatinga tem
sido negligenciada em termos de proteção de biodiversidade. A ideia foi coletar
dados para identificar as melhores estratégias para a conservação."
Para fazer o inventário, os pesquisadores instalaram
armadilhas fotográficas em vários pontos de mata natural. Quando um animal
passa por essas armadilhas, ela tira uma foto. Assim, eles conseguem
identificar os animais de médio e grande porte. Foram 2 mil registros de 14
espécies de mamíferos e mais de 180 espécies de aves. O método, infelizmente,
não consegue capturar animais de pequeno porte, mas ter o registro de grandes
felinos já é um indicativo da qualidade ambiental da área, porque são
predadores de topo da cadeia. Se os predadores aparecem nas fotos, é sinal de
que as presas também estão por lá.
E aí que está o problema. O estudo identificou um número
muito menor de predadores do que o esperado. "Nós conseguimos registrar
muitas espécies, mas o que chama a atenção, na verdade, é o quanto algumas
espécies estão raras. Com todo esse esforço, nós só registramos uma onça-parda.
A onça-pintada já não existe mais no Rio Grande do Norte provavelmente há
décadas", diz Fonseca. O problema se repete com outros mamíferos. Animais
emblemáticos, como tamanduá-bandeira ou o tatu-bola, também não foram registrados.
Área de Caatinga em Martins, no Rio Grande do Norte.
Semi-árido também tem paisagens exuberantes (Foto: Carlos Roberto Fonseca)
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Veado-caatingueiro identificado em armadilha fotográfica em
área de Caatinga do Rio Grande do Norte (Foto: Projeto Caatinga Potiguar)
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A situação no bioma é crítica por conta de dois fatores. Um
deles é a caça, ainda muito presente na região. O outro é o desmatamento. A
Caatinga já perdeu 50% de sua área natural. Ela está no "meio do
caminho" entre a Amazônia, que perdeu cerca de 18%, e a Mata Atlântica, que
perdeu quase 90%. Por isso, segundo Marina Antongiovanni, da WCS-Brasil, a
região precisa de uma estratégia específica para conservação. "A Caatinga
existe no imaginário como uma área pobre e de secura. Mas, na verdade, o
semiárido é riquíssimo se comparado a outras regiões de clima semelhante, com
paisagens exuberantes e patrimônio arqueológico enorme. É importante quebrar
essa imagem ruim."
Para os autores do inventário, a melhor forma de quebrar
esse imaginário é protegendo as áreas que ainda contam com floresta intacta.
Hoje, o bioma é um dos menos protegidos do país – só perde para o Pampa em
porcentagem de área protegida. Apenas 6% da Caatinga está protegida, e muitas
das áreas existentes não são de proteção integral. O inventário cria um mapa de
regiões que valem a pena proteger, minimizando o impacto na população local, e
criando uma oportunidade para a onça continuar existindo no Nordeste
brasileiro. Para isso, no entanto, o governo precisa se mexer e criar novas
unidades de conservação.
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