Os danos ambientais causados pela passagem da enxurrada de lama, provocada pelo rompimento de barragens da Samarco em Mariana (MG), foram drásticos, devem se estender por ao menos duas décadas, e, mesmo assim, a restauração total é tida como impossível, segundo ambientalistas ouvidos pelo UOL.
A lama "cimentou" o bioma e pode até ter causado a
extinção de animais e plantas que só existiam ali --a natureza local morreu
soterrada.
Além disso, a bacia do rio Doce ficou vulnerável e terá de
criar um novo curso.
"É uma catástrofe, não há como dimensionar os danos. Creio
que levaremos ao menos vinte anos para reverter parte do processo, restaurar
será impossível" - Beatriz Missagia, professora que pesquisou a conservação da
biodiversidade da Mata Atlântica do médio rio Doce.
A flora e a fauna dos rios Gualaxo do Norte e Doce nunca
mais serão as mesmas."A perda de habitat é enorme, e o dano provocado no
ecossistema é irreversível", explica o ambientalista Marcus Vinicius
Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão, que monitora a atividade econômica
e seus impactos ambientais nas bacias hidrográficas dos principais rios
mineiros pela Universidade Federal de Minas Gerais. "Qualquer ação a ser
tomada agora é para mitigar os efeitos do impacto da lama."
Segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), estima-se
que foram lançados 50 milhões de m³ de rejeito de mineração (o suficiente para
encher 20 mil piscinas olímpicas). A lama atingiu diretamente o Gualaxo do
Norte, afluente do rio Doce. A enxurrada avança pela calha do Doce, que corta
cidades de Minas Gerais e Espírito Santo até desaguar no oceano Atlântico.
O grande montante de lama com rejeitos de minério de ferro e
manganês está bloqueando o curso natural dos rios. Com isso, a água corrente
começa a buscar alternativas para fluir, e a escolha pode não levar a um final
feliz.
O novo caminho pode levar os rios à extinção. "Existe a
possibilidade de o rio perder força e se dividir em lagoas", diz Missagia.
As lagoas também podem morrer. "Além dos minérios de
ferro, a lama trouxe consigo esgoto, pesticidas e até agrotóxicos das terras
por onde passou. Essas substâncias aceleram a produção de algas e bactérias,
que rapidamente cobrirão as lagoas, formando um tapete verde que impede a
fotossíntese dentro d'água. Se não há fotossíntese, não há oxigênio. Sem
oxigênio os animais, vegetais e bactérias não têm chance de sobreviver",
explica.
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