Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora – MG
Na preparação para o Natal, destacam-se várias figuras
bíblicas. O Profeta Isaías é uma das mais importantes, com seus textos de
clarividência impressionante, sejam os do Profeta em pessoa, sejam os do
chamado pseudo-Isaías, sejam os do Trito-Isaías. Tal distinção indica que nos
escritos bíblicos chamados de Profecias de Isaías, encontramos três modelos
literários: os da pena do referido Profeta, e outras duas versões que teriam
sido escritas não propriamente por ele, mas por pessoas de ‘sua escola’,
acrescentados a serviço da comunidade em tempos posteriores.
Uma das características dos relatos proféticos é a
coincidência das interpretações imediatas e as futuras. Quando o Profeta, ou
alguém de sua escola escreve, o faz, em geral, a respeito de fatos que estão
acontecendo no seu próprio tempo, buscando oferecer esperança para a solução de
grandes problemas sociais, políticos ou religiosos. Porém, todos estes textos,
lidos depois da Encarnação do Verbo, do nascimento de Jesus, são percebidos
como verdadeira inspiração do Espírito Santo, trazendo sentido novo, muito mais
profundo, perfeitamente adequado à realização da promessa messiânica.
Certamente, o Profeta nunca terá tido intenção de adivinhar situações, fazer
previsões mágicas ou algo que o pareça, mas sua abertura a Deus dá-lhe
condições de criar palavras tão acertadas que nem mesmo ele poderia imaginar.
Os evangelistas mais tarde, sobretudo Mateus, muitas vezes
citarão tais escritos antigos como algo sobrenatural em previsão da vinda do
Salvador. Isto encontramos, por exemplo, na narrativa do natal do Senhor,
quando cita Isaías literalmente: “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um
filho; Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus está conosco”
(Mt 1, 23).
Também Jeremias tem palavras de impressionante realização,
ao dizer “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei nascer um descendente
de Davi, reinará como rei e será sábio,
fará valer a justiça e a retidão na terra” (Jr 23, 5).
Outra figura que vai aparecer com muita evidência no tempo
do Advento é João Batista, o Precursor que, mais que todos, prega com a palavra
e com a vida, sendo homem inteiramente de Deus, desapegado de qualquer
interesse material ou de qualquer preocupação com sua própria pessoa. Jesus vai
elogiá-lo mais tarde, dizendo que entre os nascidos de mulher, nunca surgira
pessoa humana maior do ele.
Porém se destacam com muito mais evidência e importância as
figuras de Maria e de José; ela como a mulher prometida pelo Pai, já no
Gênesis, cuja descendência esmagará a cabeça da serpente. Maria é Mãe, Rainha e
Vencedora contra o mal. José é apresentado como homem justo, que garantirá ao
Menino de Belém a descendência de Davi, não por consanguinidade, mas por via
espiritual. José é modelo de integralidade na fé, de total disposição para
cumprir a vontade de Deus, sem mesmo procurar entendê-la, não demonstrando
hesitação ou medo, mas entregando-se inteiramente à franca obediência a Deus.
O Natal se aproxima. É muito bom procurar nas figuras
bíblicas o que nos ilumina para bem celebrá-lo. Ali de fato está a luz para
nosso caminho, a força para nossa estrada.
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