domingo, 11 de setembro de 2016

CONCEITO DE ASSOMBRAÇÃO


*José Carlos Leal






A palavra assombração é formada de Ad= perto, trazer para perto + sombra. Na antiguidade clássica, acreditava-se que o morto continuava existindo no outro mundo (Hades) na forma de sombra (skiá). Em determinadas circunstâncias o morto poderia aparecer aos vivos com um simulacro de seu corpo de carne a que chamavam eidolon. Em nosso tempo, a palavra assombração designa certas aparições que acontecem em determinados lugares que, normalmente são evitados pela maioria das pessoas.

Eu me lembro, quando era menino, em Honório Gurgel, um subúrbio da antiga linha auxiliar, havia uma antiga fazenda de escravos chamada fazenda do Vira Mundo. Ficava na subida da rua Igarapé antiga rua 30. Os moradores da periferia costumavam dizer que, tarde da noite, ali se ouviam os lamentos dos escravos torturados. Contava-se ainda que nas noites de sexta para sábado, o Coronel Vira Mundo, o antigo dono da fazenda, lavava na biquinha ali existente um cavalo todo de fogo. Nas segundas-feiras, os moradores diziam que descia da fazenda, à meia- noite, uma procissão composta de almas penada.

Contava-se também que em determinados dias da semana, quem passasse por ali poderia ver um curioso fantasma. Tratava-se de uma mulher que caminhava sempre em sentido contrário ao da pessoa que passava por ali. Ela vinha caminhando normalmente sem aparentar suspeita de que fosse uma alma do outro mundo. Quando, porém, chegava bem perto do passante, ela crescia... crescia... crescia até passar dos postes e se ” derramava “ sobre a pessoa que tinha a má sorte de vê-la. Segundo o que se contava as pessoas apavoradas chegavam a desmaiar de pavor.

Havia outras informações de minha infância todas elas aterradoras como a do fantasma do meladeiro. Contava-se que na rua Américo da Rocha, antes de seu calçamento ainda, havia, nas altas horas da noite, um homem que passava com um saco nas costas, paletó comprido, chapéu de aba larga, vendendo melado. No silencia da noite, era comum ouvir-se a sua voz anunciando a sua presença com o grito : Meladeiro !... Meladeiro!... Meladeiro!...

Certa noite, havia em uma das casas daquela rua um casamento e as moças, amigas da noiva ficaram até tarde, tagarelando enquanto enfeitavam o quarto da moça que ia se casar. De repente, ouviram lá fora o grito misterioso: Meladeiro !... Meladeiro.!... Meladeiro !... As moças que moravam na casa ficaram em silencio respeitoso, porém, havia uma delas que viera de Botafogo e não conhecia Honório Gurgel. Por isso, Ela falou:

 - Um melado com farinha até que pegava bem. Vamos comprar uma garrafa?

 - Lurdinha, para com isso. Não brinque com essas coisas. Disse a moça que era a irmã mais velha da noiva.

 - Que coisas! Não é apenas um homem vendendo melado?

 - Isso é alma penada! Exclamou a jovem.

 - Que alma penada que nada! Eu vou comprar melado.

Ditas essas palavras a moça da Zona-Sul abriu a janela chamou o meladeiro e lhe pediu uma garrafa de mel mas não aceitou dinheiro em pagamento. Ela pegou a garrafa e ele foi embora. As outras moças saíram do quarto muito assustadas. Quando a moça ficou sozinha e abriu o embrulho onde estava a garrafa, deu um grito. As amigas voltaram correndo e encontraram a moça caída e, no chão, ao lado dela, estava uma canela de defunto.

Esta história não acaba aqui. Depois deste acontecimento a moça começou a definhar, perdeu o apetite e tossia como se estivesse tuberculosa. Ela foi ao médico, ele mandou que se fizessem chapas, mas estas nada acusaram. A doença continuou. Foi então consultado um médium que “trabalhava em casa” e este disse que a causa do mal era o meladeiro e,se ela quisesse ficar boa, teria que devolver a canela de defunto àquela alma que cumpria um fado pesado. Ela voltou a Honório Gurgel e uma noite ficou à espera do meladeiro e. quando ela veio, ela, apavorada, chamou-o e lhe devolveu o objeto terrível. O homem esticou a mão descarnada e pegou a canela dizendo: “Isso é para você não mexer com o que não conhece.”

Na minha infância essas histórias serviam para ocupar o espaço que hoje é preenchido pela televisão ou pelos jogos eletrônicos dos computadores. Por este motivo, muitas dessas histórias, eram tidas como “causos” histórias inventadas pelo povo para fazer passar o tempo ou para assustar crianças impedindo que elas fossem à noite, brincar em lugares que os adultos consideravam perigosos. Acontece, porém, que essas histórias são muito antigas e universais. Egípcios, babilônios, gregos e romanos possuem, nas suas tradições relatos sobre a aparição de espíritos; deste modo, não se pode descartar o assunto como mera invencionice.

*José Carlos Leal é escritor espirita e escreve no Correio Espirita

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