quinta-feira, 22 de setembro de 2016

SEM LACTOSE. E AGORA?


Edson Vidigal

Sob a quase aurora do meu quebra luz os ponteiros irrompem afobados ferindo a inércia do dia, que já se ensaia lá fora se prenunciando nem tão radioso.

O vento como se travado por uma súmula qualquer de algum tribunal de Plutão ou da Via Láctea, talvez a sete, quem sabe, ignora solenemente o recurso. Sem lactose, não há falar.

Não se sabe por qual onda, se dos oceanos ou das lagoas, o vento mergulhou e sumiu como se dissesse agora me tira dessa. Súmula é uma injeção que se aplica não conforme a dor, mas quando convém.

Antigamente, nas barrancas do Itapecuru, as mulheres ficavam horas de molho no rio lavando trouxas de roupa suja. Batendo nos panos com um cacete e os esfregando com sabugo de milho e sabão.

Das profundezas do pre-sal toneladas de lama se achando o ouro negro formataram irresistíveis as milionárias propinas do petrolão.

Explica agora oh vento para as lavadeiras das beiras dos rios ou dos riachos deste ainda nosso Brasil a diferença entre lavanderia de roupa e a outra lavanderia, a de dinheiro que os juristas portugueses mais apropriadamente chamam de branqueamento de capitais.

Me tira dessa, me tira dessa, reclama o vento preguiçoso incapaz de mover, só por hoje, ainda bem, sequer uma folha nos arvoredos quase secos das beiradas do Lago do Paranoá.

A flatulência dos esgotos desemboca pelos arroios dos grandes rios em suas passagens suburbanas. Também pelos regatos das praias urbanas, inclusive a de Iracema no Ceará e a do Olho D água no Maranhão.

O vento, sempre disposto, tem forças para espraiar esses fedores. Mas hoje, não. Parece enojado com o que tem transcendido nas ultimas vésperas.

Quando o General Figueiredo trocou a farda por um terno e gravata e foi ao prédio do Congresso assinar a ficha de filiação à ARENA, sem o que não poderia ser o candidato então imbatível porque sob as regras especificas e direcionadas a favorece-lo, não sei já era uma jogada de marketing do Said Farah, o cobra da sua comunicação, mas vi que o cigarro que ele fumava era um Parliament. (Parlamento)

Naquele tempo ainda não havia o Serra para proibir fumantes nos aviões, nos prédios públicos e nos locais fechados de acesso público. O General fumou três Parliament`s. Estava disposto a fazer a abertura politica. “Quem for contra a abertura politica, eu prendo e arrebento”. Afirmou assim a sua convicção.

Não demorou e os bolsões radicais da linha dura fizeram explodir uma bomba num primeiro de maio no Rio Centro, pouco antes do começo da festa em celebração do dia do trabalhador.

A bomba parecia tão afobada que explodiu bem antes no colo de um sargento do Exército. Foi a senha para o Presidente Figueiredo esmorecer com a abertura. Golbery foi embora. Se quiseres saber mais, pergunta ao vento.

Me tira dessa, me tira dessa. O vento hoje não quer saber de nada. O vento hoje é até inocente. Não tem nada a ver com os incêndios que se espalham. Nem com as chuvas que causam alagamentos, desabamentos, esbarrei amentos, até afogamentos. Nem quando as chuvas não vêm.

Hoje, graças ao Serra, já não há mais cinzeiros nem pontas de cigarro atiradas nos tapetes do Congresso Nacional. No meio do caminho, entre o plenário da Câmara e o plenário do Senado, tinham muitas pontas de cigarro.

Drummond, o poeta, contou que nada lhe deu mais aporrinhação que o poema da pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra. Aos vinte e poucos anos escreveu aquilo como diversão. Por brincadeira. Mas até o vento sabe o quanto o poema da pedra foi objeto de estudos, polêmicas, até de teses de mestrado.

Me tira dessa, pede o vento. Me tira...

Edson Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

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