Jorge Oliveira
Cascais, Portugal –
O prestígio de um político se mede pela honestidade e pela quantidade de
votos que ele tem ou transfere para outro. Quando ele perde uma eleição fica
invisível, não é convidado nem para batizado de criança até se reeleger e
voltar ao poder. Ou pendurar as chuteiras, como fazem alguns. Pois bem, o
ex-presidente Lula, no quesito honestidade, foi reprovado. Mas agora começa a
sentir na pele o desprestígio político ao não conseguir transferir votos nem
para eleger um dos seus filhos vereador. Se não pendurar as chuteiras como fez
Pelé sabiamente, corre o risco de ir para ostracismo. O saldo que fica dessas
eleições municipais é de um PT desidratado de votos, os seus líderes na prisão
e um Lula falando bobagens como se ainda fosse um líder de massa.
O PT ganhou uma capital lá no Norte do país e está
pendurado em outra, no Recife, com possibilidade remota de vitória. Perdeu
inclusive no seu mais importante colégio eleitoral, berço do partido, São
Paulo, não reelegendo Haddad, um poste que chegou à prefeitura com o auxílio de
Paulo Maluf, com quem Lula compôs para eleger seu pupilo. O diagnóstico é de
que o PT precisa se reinventar se quiser continuar dando as cartas na política
do país e o seu líder, José Inácio Lula da Silva, passar o bastão para alguém
antes que ele enterre de vez o partido que criou para combater as elites com
quem, depois, se acumpliciou para roubar o país.
O maior problema do PT é encontrar um substituto de Lula
que, a exemplo dos déspotas populistas, aniquila aqueles que se atrevem a
atravessar o seu caminho. Foi assim com Zé Dirceu, Genoíno, Mercadante, Marta,
Marina, Heloisa Helena, Palocci e tantos outros que tentaram um dia ousar
desafiá-lo. Como um egocêntrico, preferiu, portanto, tirar a Dilma do anonimato
e elegê-la presidente a prestigiar prata da casa porque temia perder as rédeas
do poder. O resultado, como se esperava, foi o desastre do impeachment e a
fragmentação do partido que sonhou com vinte anos no poder.
Os primeiros sinais de que hoje Lula mais atrapalha do
que contribui ocorreram nessas eleições municipais. João Paulo, candidato do PT
no Recife, queixa-se de ter caído nas pesquisas depois que o seu guia foi dar
uma forcinha na sua eleição. Ficou com a metade dos votos do seu adversário,
mas, mesmo assim, chegou ao segundo turno numa penúria de votos danada. Lula
também foi ao Ceará. Nenhum dos candidatos que apoiou no estado ganhou a
eleição. E para complicar a sua vida e as suas pretensões políticas, o
nordestino foi às urnas e disse não a ele e ao seu partido, um sinal claro de
que a corrupção começa a ser sentida pela população mais carente como uma erva
daninha, coisa sem muita importância até pouco tempo para quem se submetia aos
currais.
A população brasileira dá nítidos sinais da valorização
do voto e de como ele é fundamental como meio de transformação social e
econômico do país. Ao contrário do que pensam alguns retrógrados, a democracia
– que elege seus dirigentes pelo voto – ainda é o melhor caminho do
desenvolvimento e das mudanças estruturais.
Quase a metade dos prefeitos de capitais, que tentaram a
reeleição, ficou no meio do caminho. Foram contaminados pelos escândalos que
envolveram políticos de quase todos os partidos. Os candidatos novos, que
fizeram campanha com o discurso da negação política, tiveram mais êxito. Caso
de São Paulo, por exemplo, onde Dorea, um apresentador de televisão, sem
nenhuma tradição política, ganhou as eleições no primeiro tuno deixando para
trás as raposas políticas sem discurso. Se ele vai administrar bem a maior
capital do país é outra história, mas ao elegê-lo os eleitores de todas as
classes sociais entenderam que é melhor apostar no novo, porque os “velhos”
eles já conhecem – e estão cada vez mais velhos.
É diante desse quadro que o PT vai tentar se reestruturar
para sobreviver, com a adversidade das urnas. E se preparar para o pior caso
seu líder maior, político espiritual, agora invisível, caia nas garras de
Sergio Moro.
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