segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Os anjos existem?

Os anjos nos protegem, nos animam e nos impulsionam no caminho da santidade e da dignidade, da prática do amor e dos serviços ao próximo.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora – MG

Praticamente em todas as religiões se crê que, além das criaturas humanas, há também espíritos incorpóreos criados por Deus, dotados de inteligência e vontade. Na fé judaica e cristã, eles existem para prestar culto perpétuo a Deus e auxiliar os humanos em seu dia a dia.

A Bíblia Sagrada, seja na versão judaica, seja na versão católica seja nas versões protestantes, apresenta abundantes menções aos anjos e faz distinção hierárquica, constituindo-os em nove coros, entre serafins, querubins, tronos, dominações, potestades, virtudes, principados, arcanjos e anjos.

Já no livro do Gênesis, encontram-se várias referências aos anjos, entre as quais se destaca a visita de três seres celestiais a Abraão, que prenunciaram o nascimento de seu filho com Sara, sua esposa estéril e idosa (cf Gên 18). No livro de Tobias encontra-se a história do Arcanjo Rafael (medicina de Deus), sendo ele o socorro do velho Tobit que ficara cego ao praticar a caridade de enterrar dignamente os mortos. O Arcanjo lhe traz fel de peixe e o cura. Isaías se refere a Serafins. Daniel revela visões de anjos e apresenta o Arcanjo Miguel (Quem como Deus?) como chefe defensor no combate contra os persas infiéis (cf Dan 10, 1 – 20). Miguel é conhecido como Príncipe das Milícias Celestes.

No Novo testamento, as referências aos anjos são também numerosas, tendo o Arcanjo Gabriel (Força de Deus) anunciado a Maria o nascimento de Jesus, o Divino Salvador, cumprindo assim a principal e mais elevada missão entre todos os anjos e santos. Nas pregações de Jesus, encontramos várias alusões aos anjos, destacando-se a presença do anjo consolador nas agonias do Horto das Oliveiras, na noite que antecedeu a sua condenação e morte na cruz. Também anjos se apresentaram ao lado do túmulo, no domingo da ressurreição, anunciando que Cristo vencera a morte e se encontrava vivo.

Nas cartas de São Paulo e de São Judas, encontramos menções que revelam a plena fé dos primeiros cristãos na existência e nas ações dos anjos. No Apocalipse, a figura do Arcanjo Miguel toma grande importância, sendo apresentado como o defensor da “mulher que estava para dar à luz seu Filho”, vencendo a força infernal de um poderoso dragão que “com sua calda arrastava a terça parte das estrelas do céu” (cf Ap 12, 1- 18). Os cristãos sempre viram na figura desta mulher a Santíssima Mãe de Jesus e ao mesmo tempo a imagem da Igreja sempre ameaçada pelo poder do mau.

Nos escritos teológicos dos Santos Padres, também é frequente o estudo e a defesa da fé na existência dos anjos, como em São Clemente (séc. I), Santo Ambrosio (séc. IV), Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc. V), São João Damasceno (séc. VIII). São tomados de grande importância os estudos de São Tomás de Aquino (Séc. XIII) e tantos outros. Na idade Moderna, o Concilio de Trento (séc XVI) e na Contemporânea, o Concílio Vaticano II (séc XX) e o Catecismo da Igreja Católica (CIC), seguem confirmando a doutrina sobre os anjos.

Na liturgia Católica, ao menos duas festas se destacam em louvor aos Anjos, sendo uma dia 29 de setembro, quando celebra a festa dos Arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel e ainda a memória dos Santos Anjos da Guarda, no dia 2 de outubro. Também os Anglicanos, os Luteranos, outras correntes protestantes, bem como os Ortodoxos têm, em seus calendários, liturgias próprias dos Anjos.

Os anjos nos protegem, nos animam e nos impulsionam no caminho da santidade e da dignidade, da prática do amor e dos serviços ao próximo, nos colando sempre perante Deus que não se cansa de manifestar sua misericórdia e de nos amparar com seu amor.  Creio firmemente nesta doutrina e quando vejo pessoas dedicadas e humildes ao lado de doentes ou servindo desinteressadamente aos pobres, me lembro deles e penso em meu coração: os anjos existem: eu os vejo também na terra.

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