Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte – MG
Há uma clássica percepção sobre a Igreja Católica que
enfatiza o seu estado permanente de reforma. Isso significa compreender a
Igreja assentada sobre alicerces imutáveis e inegociáveis da Doutrina da Fé,
inserida na história e em diferentes culturas, assumindo o desafio de ser
contemporânea. Um compromisso vivido sob a luz e o impulso da ação do Espirito
Santo. Assim, a Igreja se confirma, ao longo dos tempos, como servidora do
Reino de Deus e anunciadora do Evangelho. Hoje, a Igreja trilha o caminho de um
mundo marcado pela multiplicidade e velocidade das transformações, entre outras
características, que exigem novas ações capazes de permitir o encontro de todos
com a pessoa de Jesus Cristo - a assimilação de seu Evangelho, força com
propriedades para tornar o mundo melhor. É preciso alcançar novos paradigmas
alicerçados na misericórdia, que quebra privilégios e segregações. Nesse
processo, para ser fiel à sua identidade, a Igreja precisa cultivar a
proximidade, sobretudo com os mais pobres. E diante dessa realidade, o Papa
Francisco deve ser reconhecido como um dos sinais de Deus para os conturbados
dias atuais.
O Santo Padre é sucessor do apóstolo Pedro e, a partir de
sua missão, conduz a Igreja na direção que deve seguir para qualificar-se, na
fidelidade imorredoura à verdade da fé, e, assim, ser capaz de interpelar a
contemporaneidade. Nessa tarefa, o Papa Francisco convoca todos os fiéis a
fazer uma Igreja cada vez mais missionária, seguindo o mandato de Nosso Mestre
e Senhor. Jesus Ressuscitado envia seus
discípulos em missão para pregar o Evangelho em todos os tempos e lugares, para
que a fé n'Ele se estenda a todos os cantos da terra. Inquestionável é a convicção de que o
Evangelho de Jesus guarda a semente que, se cultivada, faz nascer sociedades
mais justas e igualitárias.
A tarefa de ser cada vez mais missionária exige da Igreja
coragem para se submeter a indispensáveis reformas práticas, relacionadas aos
exercícios do poder, à organização e aos funcionamentos conjunturais. Requer
também a coragem para abrir mão de privilégios. Há inércias e funcionamentos
que são claros impeditivos para que as comunidades avancem no caminho de uma
conversão pastoral e missionária. Diante das perguntas novas, que exigem novas
respostas, todos devem estar convictos de que as coisas não podem continuar
como estão. Afinal, soluções obsoletas não são capazes de resolver problemas
contemporâneos. E a novidade que se busca está em Jesus Cristo e no seu
Evangelho. Desnecessários e prejudiciais na vida da Igreja são os hábitos que caracterizam
clubes fechados, ou que remetem às organizações de caráter partidário e
político-religioso. Esse processo de renovação exige rapidez, para não se
perder a oportunidade, mas é complexo, pois confronta posições e defesas de
práticas que são verdadeiras barreiras, erguidas pela incompetência de se
dialogar com o mundo contemporâneo.
É urgente a reforma de estruturas, mas não é somente
“aquela onde o outro se assenta”. São todas as estruturas, que devem abrir-se à
ação do Espírito Santo para renovar-se. O aparecimento de reações e de posturas
não suficientemente lúcidas, que incapacitam para o diálogo com o mundo,
constitui um risco. Pode conduzir a Igreja a uma espécie de “introversão
eclesial” que ameaça a força de sua própria identidade. E se a Igreja estiver
enfraquecida, distante dos homens e mulheres deste tempo, perde sua capacidade
de promover o encontro de todos com a pessoa de Jesus Cristo, impulsionando
transformações. As centralizações excessivas que complicam a vida da Igreja e
mutilam sua dinâmica missionária impõem, a todos, um alto preço.
A grande força motora de todo o necessário processo de
transformação, que recria e redesenha estruturas, funcionamentos, sobre o
alicerce imutável da Doutrina da Fé, vem da lição que permanentemente desafia a
aprendizagem e a prática de todos os cristãos: a misericórdia. Eis o vetor que
impulsiona as transformações, vencendo medos e resistências, fecundando mentes
e corações nas inventividades. A misericórdia não é um parêntese na vida da
Igreja, mas constitui a sua própria existência. Por isso, afirma o Papa
Francisco que tudo se revela na misericórdia e tudo se compendia no amor
misericordioso do Pai. Na medida em que
se é tocado pela misericórdia, brota-se o novo, firma-se o passo conduzido pelo
amor. A vivência da misericórdia exige a ruptura com círculos de egoísmo, de
carreirismo, de exercícios equivocados do poder e com o gosto por privilégios.
Não se pode querer limitar a ação do Espírito Santo, pois d’Ele vem a indicação
de novos caminhos.
Essencial para acolher esses novos rumos é Proclamar a
Palavra de Deus. Reconhecer que esse é o tempo da misericórdia e de renovar,
pela misericórdia, o rosto da Igreja, possibilitando novas dinâmicas e
respostas. Para isso, são necessários investimentos, sinergia e comunhão com a
marca da humildade, amor sincero e operoso pela Igreja. E a indicação mais
segura, no mundo contemporâneo, é que todos possam estar a caminho com o Papa
Francisco.
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