Jorge Oliveira
Maceió - Sérgio Moro está fazendo escola. Antes um
cavaleiro solitário visto com desconfiança pelos mais céticos que não
acreditavam na evolução da Lava Jato, Moro virou celebridade, um exemplo para a
magistratura brasileira, mas um transtorno para os ministros do Supremo
Tribunal Federal. Enquanto em menos de dois anos, o juiz paranaense condenou
políticos e empresários as mais severas penas, os ministros do STF continuam
batendo boca em público. Brigam entre eles para impor suas ideias e levam para
às ruas a roupa suja que deveriam lavar em casa.
Dormem em berço esplêndido na principal Corte do país
dezenas de processos envolvendo políticos que sequer foram analisados. Um caso
exemplar de leniência é o do Paulo Maluf. Procurado em mais de 100 países do
mundo, com fotos estampadas nas telas dos computadores dos aeroportos
internacionais, o deputado federal, que representa São Paulo, continua impune.
Insisti em dizer que é inocente, mas o dinheiro resgatado nas contas lá fora é
dele e da família. Se tivesse caído nas mãos do Moro, jamais teria saído da
cadeia quando foi preso pela primeira vez.
Ninguém se entende no principal tribunal do país. Quando
dois ministros deixam de discordar nos autos para colocarem suas divergências
em público é porque existe uma desordem jurídica lá dentro. Gilmar Mendes não
se conforma com a decisão casuística de Lewandowski em não cassar os direitos
políticos da Dilma depois da votação do impeachment que a afastou da
presidência. Discutem na Praça dos Três Poderes como vizinhos malcriados de
ponta de rua. Na verdade, a Corte, que deveria ser a guardiã da nossa
Constituição, está contaminada. Seus ministros parecem influenciados pelos
políticos que os apadrinharam, restringindo suas ações lá dentro.
É por causa disso que eles não agem com autonomia e
isenção quando têm que decidir sobre um processo que envolve um dos seus
padrinhos. Não é o caso de Moro, um juiz concursado, qualificado, com cursos no
exterior. Os ministros do STF não se reciclam. Burocratizam-se quando vestem a
toga e dali só saem para um pijama. É assim e assim será enquanto não se mudar esse
modelo de decisão monocrática de escolha dos membros do STF que aceita nos seus
quadros até advogado reprovado em concurso de juiz.
Sérgio Moro quebrou o retrovisor da justiça brasileira.
Está indicando outro caminho para o país. E aqueles que não querem enxergar
essa nova realidade tendem a se constranger com as decisões corajosas de um
juiz que até pouco tempo fazia assistência a ministros dentro do próprio STF.
Cada sentença proferida por ele é um soco no estômago do tribunal que continua
mantendo na gaveta os processos da Lava Jato.
Os últimos acontecimentos no Rio de Janeiro não deixam
dúvidas da procriação de Moros pelo Brasil. Por decisão de outros juízes, está
no presídio de Bangu o ex-governador Sérgio Cabral e Anthony Garotinho, outro
ex, algemado numa cama de hospital. Quem, até a prisão dos dois, acreditava que
tal fato fosse acontecer? Aconteceu e mais uma vez o STF assiste o noticiário
constrangido, pois Cabral – pelo menos ele – é um dos mais citados na lama da
corrupção da Petrobrás, acusado também do desvio de mais de 220 milhões de
reais em obras federais.
Sempre que é questionado sobre a lentidão dos processos, o
STF responde com a mesma ladainha: poucos juízes para muitos processos. Balela,
desculpa esfarrapada. Se continuar a olhar pelo retrovisor, o tribunal corre o
sério risco, ele próprio, de virar arquivo.
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