Eduardo Simbalista
No jogo do faz de conta, é tudo já página virada, assunto
superado, como se em política houvesse assunto superado.
A raposa, com maestria, procrastina a disputa entre o
suíno e o gato, que pôs o dedo onde não devia e descobriu que focinho de porco
não é tomada. O ministro acaciano, que vive também acima do teto, vem explicar
àqueles que ainda não entenderam a regra do jogo: o fiador dos acordos é
intocável e não pode virar presunto assim, assim, sem mais nem menos; no
presidencialismo, quem nomeia e demite ministros é o presidente.
Estar-se-ia à véspera de importantes votações e de gordas
delações que deverão trazer cordas e guizos para muitos pescoços engravatados.
E é sempre preciso cuidado com o mágico Dallagnol no circo Guignol. No reino
das mesóclises, indeciso diante da indecisão, dança-se o velho tango janista:
dois prá lá, dois pra cá e ainda mais um recuo.
O respeitado constitucionalista, por sua vez, escapará
vaidosamente: isso é lá com o Congresso, dirá, lustrando o respeito à autonomia
dos poderes. A lição do veto aos projetos do salve-se quem puder ficará para
segunda época.
Agora, devemos deixar Geddel trabalhar em prol do Brasil.
Entre o cinismo e a hipocrisia, o ministro demissionário é chamado de inculto e
pouco diplomata: “não entendeu o pleito”; “não está acostumado ao jeito de ser
do suíno”; “é mentira: acobertaremos”.
Para bom entendedor: a nota de amplo e irrestrito apoio
de uma vintena de líderes parlamentares faz de conta que blinda, mas vem
revelar e expor o “operador político da melhor qualidade”, isto é, o fiador dos
acordos do toma lá-dá-cá, feitos entre gedéis e bacharéis, em nome da maioria
necessária para aprovação das reformas necessárias e, de quebra, da anistia aos
caixas 1, 2, 3 e 4. É aquele no qual os cúmplices podem confiar. É nova versão
do mensalão, agora sob a vetusta e honrada capa da salvação nacional. Afinal, a
falência dos Estados ameaça a Federação e os bezerros voltaram a reconhecer
suas tetas no curral.
Os sinais estão trocados. Nesse quase dezembro, faz frio.
A cigarra canta. A seca no Nordeste e as chuvas no Sul revelam: as águas devem
estar irrigando novos açudes.
Daqui a pouco, será Natal e com ele virá o recesso de fim
de ano. O bedel Geddel baterá o sino de férias. Não teremos nem sessões de
votação nem de buscar filho na escola. No calendário, apenas a eleição das
mesas do Congresso. Entre rossos, renans e maias, a nau estará à deriva.
Ah, forças ocultas! Num a bebida, noutro a vaidade e as
más companhias. Na ilha da fantasia política, surda à sociedade, poder-se-á
ouvir e talvez, digamos assim, dançar o último tango.
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