Dom Gil Antônio Moreira - Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora – MG
Estamos no tempo do Advento, preparando-nos para celebrar o
nascimento do Salvador. No Natal, aqueles que creem se inclinam, com referência
ante o recém-nascido na manjedoura de Belém. O povo brasileiro, em sua imensa
maioria cristão e temente a Deus, celebra o maior evento da história da
humanidade: o nascimento de Jesus de Nazaré, e contempla o presépio com ternura
e respeito.
Porém, ao lado desta abençoada experiência existencial, no
corrente ano, estamos sendo surpreendidos por uma verdadeira traição dos que
nos governam, quando assistimos à aprovação do aborto até o terceiro mês de
gestação. Enquanto o país estava consternado com a tragédia da queda de avião
que matou jogadores e outras pessoas, o STF aprovou a legalização do
assassinato de inocentes. Somos obrigados a conviver com movimentos que agridem
a vida e a dignidade da pessoa humana. O aborto não é outra coisa senão
infanticídio. É inacreditável que em pleno século XXI, com tanto progresso
tecnológico e científico, haja um regresso em questão de humanidade.
Não tenhamos dúvida: se hoje aprovam abortamento até o
terceiro mês, os cultores da morte não se contentarão com isto. Em breve se
sentirão fortes para aprovar o aborto em qualquer circunstância até o nono mês.
É mais que trágico!
A argumentação a favor deste ato insano é totalmente falha e
marcada por uma fragilidade inacreditável. Defendendo o pretenso direito
incondicional da mulher sobre o seu corpo, sem levar em consideração o direito
da criança sobre o dela, não apresentam outro motivo para a proposição senão o
fato de haver muitos abortos clandestinos e mortes de mães provenientes deste
procedimento ilegal. Mas matar é sempre ilegal. A única exceção seria a
legítima defesa que nada tem a ver com o caso em questão. Matar um ser humano
e, sobretudo uma criança indefesa, é um crime horrendo.
A afirmação ilusória de que legalizando se diminuirá o
número de abortos é na verdade enganadora, pois nos países em que o aborto foi
legalizado, o número de abortamentos aumentou escandalosamente. No mais, é
muito curioso que para combater um mal, se busque a insana ilusão de legalizar
o mal. É como se quiséssemos legalizar o roubo para acabar com o roubo,
legalizar a violência para acabar com a violência, legalizar a prostituição
para acabar com a prostituição. Isto é, no mínimo, total ausência de
racionalidade. O aborto é sempre um crime. A criança que está no seio materno
é, desde a concepção, um ser humano de direitos e que merece mais proteção da
lei que outros porque não pode ainda se defender por si mesma. O embriologista
Lewis Wolpert é de opinião que o momento da concepção é o mais importante de
nossa existência, até mais importante do que o nascimento, o casamento ou a
morte. A doutora Alice Teixeira
Ferreira, médica, coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Bioética da
UNIFESP, afirma que ser a favor da descriminalização do aborto equivale a ser
conivente com o assassinato de embriões e fetos que já são vidas humanas. A
mesma cientista denuncia que, para aprovar esta lei, recursos sórdidos estão
sendo usados, como estatísticas enganosas e apelos propagandistas duvidosos.
A legalização do aborto, em suas variadas formulações de
autores diferentes, faz parte de uma orquestração internacional de grupos de
interesse. Muitos são os motivos (todos falhos) que levam a proposição de
legalizar o aborto. Entre estes motivos, não se exclui nem mesmo o escandaloso
e milionário comércio de embriões e de favorecimentos político-ideológico.
Preparando a celebração da noite santa do Natal, o que mais
exige o momento histórico é agir concreta e conjuntamente para defender a vida
e sua dignidade em nosso país.
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