Morreu na manhã deste domingo (4), aos 86 anos, o poeta,
ensaísta, crítico de arte e jornalista Ferreira Gullar. Ele estava internado no
hospital Copa D'Or, no Rio de Janeiro, há cerca de 20 dias devido a um quadro
de insuficiência respiratória.
Nascido José Ribamar Ferreira em 10 de setembro de 1930,
em São Luis do Maranhão, Gullar foi eleito imortal em 2014 pela Academia
Brasileira de Letras (ABL), militou pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos
Anos de Chumbo e viveu na Argentina, no Chile e na União Soviética durante o
período da Ditadura Militar do Brasil.
Antes disso, nos anos 50, o poeta, ao lado do artista
plástico Amilcar de Castro, fez história no jornalismo brasileiro com a criação
do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, considerado um maco do jornalismo
cultural. No SDJB, Gullar assinou textos que apontaram para o futuro das artes
no país, tais como "Manifesto Neoconcreto" e "Teoria do Não
Objeto".
Poeta Ferreira Gullar é autor de textos teóricos que
integram hoje a história da arte no Brasil |
Gullar descobriu a poesia moderna aos 19 anos, a partir
de poemas de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Ficou escandalizado
com o estilo desse tipo de poesia, informou-se, lendo ensaios sobre a nova
poesia, aderiu a ela e adotou uma atitude totalmente oposta à que tinha
anteriormente, tornando-se um poeta experimental radical, que tinha como lema
uma frase de Gauguin: “Quando eu aprender a pintar com a mão direita, passarei
a pintar com a esquerda, e quando aprender a pintar com a esquerda, passarei a
pintar com os pés”.
Ferreira Gullar foi um dos protagonistas na literatura
brasileira da poesia concreta, mas tornou-se dissidente do movimento e passou a
integrar um grupo de artistas plásticos e poetas do Rio de Janeiro: o grupo
neoconcreto, surgido em 1959. Seus textos para o Jornal do Brasil fazem parte
da história da arte brasileira, pelo que trouxeram de original e
revolucionário. São expressões da arte neoconcreta as obras de Lygia Clark e
Hélio Oiticica, hoje nomes mundialmente conhecidos.
Gullar, por sua vez, levou suas experiências poéticas ao
limite da expressão, criando o livro-poema e, depois, o poema espacial, e,
finalmente, o poema enterrado. Este consiste em uma sala no subsolo a que se
tem acesso por uma escada; após penetrar no poema, deparamo-nos com um cubo
vermelho; ao levantarmos este cubo, encontramos outro, verde, e sob este ainda
outro, branco, que tem escrito numa das faces a palavra “rejuvenesça”.
O poema enterrado foi a última obra neoconcreta de
Gullar, que afastou-se então do grupo e integrou-se na luta política
revolucionária. No PCB, passou a escrever poemas sobre política e participar da
luta contra a ditadura militar que havia se implantado no país, em 1964. Foi
processado e preso na Vila Militar. Mais tarde, teve que abandonar a vida
legal, passar à clandestinidade e, depois, ao exílio. Deixou clandestinamente o
país.
Voltou para o Brasil em 1977, quando foi preso e
torturado. Libertado por pressão internacional, voltou a trabalhar na imprensa
do Rio de Janeiro e, depois, como roteirista de televisão.
Durante o exílio em Buenos Aires, Gullar escreveu Poema
Sujo – um longo poema de quase cem páginas – que é considerado a sua
obra-prima. Este poema causou enorme impacto ao ser editado no Brasil e foi um
dos fatores que determinaram a volta do poeta a seu país. Poema Sujo foi
traduzido e publicado em várias línguas e países.
De volta ao Brasil, Gullar publicou, em 1980, Na vertigem
do dia e Toda Poesia, livro que reuniu toda sua produção poética até então.
Voltou a escrever sobre arte na imprensa do Rio e São Paulo, publicando, nesse
campo, dois livros Etapas da arte contemporânea (1985) e Argumentação contra a
morte da arte (1993), onde discute a crise da arte contemporânea.
Outro campo de atuação de Ferreira Gullar é o teatro.
Após o golpe militar, ele e um grupo de jovens dramaturgos e atores fundou o
Teatro Opinião, que teve importante papel na resistência democrática ao regime
autoritário. Nesse período, escreveu, com Oduvaldo Vianna Filho, as peças Se
correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída? De
volta do exílio, escreveu a peça Um rubi no umbigo, montada pelo Teatro Casa
Grande em 1978.
Mas Gullar afirma que a poesia é sua atividade
fundamental. Em 1987, publicou Barulhos e, em 1999, Muitas Vozes, que recebeu
os principais prêmios de literatura daquele ano. Em 2002, foi indicado para o
Prêmio Nobel de Literatura.
Com informações da Academia Brasileira de Letras
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.