Carlos Chagas
Carlos Lacerda era imbatível nos debates parlamentares,
ainda que muitas vezes injusto e grosseiro. Discursava contra o governo, aliás,
qualquer governo, quando foi aparteado pela deputada Ivete Vargas. “Vossa
Excelência é um purgante!” disse a líder trabalhista, imediatamente
contraditada: “Do qual Vossa Excelência é o efeito!”
Em outra oportunidade, o deputado Batista Ramos
interrompeu novas diatribes, acentuando: “Vossa Excelência é um ladrão da honra
alheia!”, ouvindo em seguida: “Então Vossa Excelência não tem nada a perder!”
Os exemplos se sucedem nos anais parlamentares de décadas
atrás, com o notável tribuno humilhando colegas e arrancando aplausos de seus
seguidores, no plenário da Câmara. Só não conseguiu alcançar o objetivo maior,
de chegar à presidência da República. No fim da vida, perdeu até o que parecia
um trampolim para chegar ao palácio do Planalto: o apoio dos militares, que
ajudara a ocupar o poder. Terminou cassado, preso e obrigado a confraternizar
com seus tradicionais adversários, a começar por Juscelino Kubitschek e João
Goulart.
Por que se recordam episódios que o passado levou?
Porque Carlos Lacerda faz falta. Imagine-se estivesse no
Congresso. Não deixaria pedra sobre pedra na confusão de hoje. Do PMDB não
sobraria nada. Também do PSDB, do PT e penduricalhos. Amassaria partido por
partido, sem falar nos governos, de Fernando Henrique ao Lula, de José Sarney a
Dilma Rousseff e a Michel Temer.
Quando se analisa o Congresso atual, sente-se a ausência
de um líder que seja preparado para influir na vida pública. Nem na privada.
Nenhuma proposta, nenhum objetivo. Nada, exceção do vazio de líderes, de ideias
e de partidos. Nem mesmo oradores de escol, muito menos de coragem para
sensibilizar a opinião pública. Carlos Lacerda, para o bem ou para o mal, faz
falta.
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